Na quinta-feira (28), ao falar sobre a presidência do Brasil no G20, Macron disse a Lula que cabe ao líder decidir sobre um eventual convite ao presidente Vladimir Putin para a cúpula do grupo em novembro no Rio de Janeiro.
Segundo Macron, o tema deve ser abordado levando em conta "a liberdade de quem convida e o respeito de todos" do G20, relata a Folha de S.Paulo.
"Eu não tenho lição para dar a ninguém, mas quando o presidente Lula convida, ele é responsável de seus convites", disse Macron.
O líder francês usou como exemplo a reunião do G7 em 2019, na França, quando ele convidou Putin para uma reunião dias antes da cúpula do clube de países ricos.
Segundo Macron, ao levar a possibilidade de convidar o presidente russo para o G7, houve reação dos demais membros do grupo: "Coloquei-me a mesma questão em 2019, no momento do G7. Colocamo-nos a mesma questão, de convidar o presidente Putin. A situação era menos grave [...]."
"Jamais tive consenso dos outros [membros do G7]. Alguns me disseram: 'Se você o chamar, eu não irei.' Isso será um bloqueio. Então o que ocorreu é que eu tomei uma decisão de convidar o presidente Putin a Brégançon, vocês se lembram talvez. Eu tentei chegar a um resultado, já que haveria o G7 algumas semanas depois. Penso que é uma questão legítima."
No entanto, a principal diferença do caso citado por Macron é que a Rússia não é parte do G7, mas integra o G20 como membro pleno. O líder francês destacou que decisões do G20 são consensuais.
"Será um trabalho da diplomacia brasileira, nós faremos tudo para ajudar. Se houver um encontro que pode ser útil, é necessário fazê-lo. Se é um encontro que não é útil e vai provocar divisão, me parece não necessário fazê-lo. Estamos a serviço da paz e do interesse comum", afirmou.
Os dois líderes também conversaram sobre o conflito na Ucrânia. Ao lado de Macron, Lula voltou a defender a paz no conflito e disse que o Brasil segue neutro.
"[...] resolvemos não tomar lado porque nós queremos criar condições de voltar à mesa de negociação e dizer que a guerra só vai ter uma solução, que é a paz […]. A destruição, os gastos, os investimentos em armas são muito maiores do que os investimentos feitos para combater a fome, a desigualdade e a miséria."
Lula também relembrou que em 2003 declinou o convite do então presidente dos Estados Unidos, George Bush, para participar da invasão ao Iraque, já que seu compromisso sempre foi combater as desigualdades.
Já Macron afirmou que "a França quer o diálogo, quer voltar à mesa de negociações. Mas a França quer dizer que não somos fracos. Se houver uma escalada sem fim daqueles da agressão, nós temos de nos organizar para não ter que lamentar apenas".