Panorama internacional

Por que plano dos EUA de sabotar projeto russo de exploração de gás no Ártico é fadado ao fracasso?

Os Estados Unidos tentam sabotar o projeto Arctic LNG 2 da Rússia e fazer o que for necessário para garantir que ele esteja "fadado ao fracasso". Washington terá sucesso em acabar com essa audaciosa empreitada energética russa?
Sputnik
Com o objetivo de sufocar o projeto de liquefação de gás Arctic LNG 2 da empresa russa Novatek, os EUA planejam usar sanções econômicas, relatou o jornal The Wall Street Journal no último domingo (14), citando o secretário-assistente de estado para Energia, Geoffrey Pyatt.
Para isso, Washington busca impedir que Moscou receba navios-tanque de classe de gelo especializados para transportar gás natural liquefeito (GNL). Como resultado, o estaleiro sul-coreano Hanwha Ocean, responsável pela construção de seis transportadores de gás para o projeto, encerrou a cooperação com o cliente.
As ações de Washington vão muito além do direito internacional ou das regras do livre mercado, de acordo com Stanislav Mitrakhovich, especialista da Fundação Nacional de Segurança Energética e da Universidade Financeira do Governo da Federação da Rússia. "Os norte-americanos simplesmente usam sua influência no mundo, ou seja, sua influência financeira, política e tecnológica para forçar o mundo inteiro a agir da maneira que desejam", esclareceu Mitrakhovich à Sputnik.
Com relação ao comércio de energia, os EUA têm uma longa história de tentar excluir a Rússia do mercado europeu sob vários pretextos. Como exemplo, Washington conseguiu forçar a União Europeia (UE) a romper os laços energéticos com a Rússia — para prejuízo do continente — após o início da operação militar especial na Ucrânia em fevereiro de 2022.
Em setembro de 2022, os gasodutos Nord Stream que transportavam gás natural da Rússia para a Europa foram destruídos por "agressores desconhecidos", cujas suspeitas apontam para norte-americanos e noruegueses que agiram sob as ordens da equipe do presidente Joe Biden, segundo o jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer, Seymour Hersh.
Diante disso, pontua o analista, não foi surpreendente que os EUA tenham se tornado o maior fornecedor de GNL para a Europa em 2022 e 2023, de acordo com a Administração de Informação Energética do país. A Rússia ainda permaneceu como o terceiro maior fornecedor de GNL para a Europa e, segundo estimativas, as importações de GNL russo aumentaram 40% desde fevereiro de 2022.
O Arctic LNG 2 é o terceiro projeto de GNL da Rússia e vai aumentar a produção em 19,8 milhões de toneladas por ano (MTPA) de GNL e até 1,6 MTPA de condensado de gás estável. Aparentemente, isso não se encaixa nos planos de expansão do mercado de energia dos EUA.
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Métodos injustos de concorrência

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou repetidamente que as restrições ocidentais contra a Rússia violam os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) e são métodos injustos de concorrência. Segundo Mitrakhovich, os EUA e seus aliados demonstraram que não podem ser confiáveis como garantidores da economia global.

"É difícil confiar no Ocidente como banqueiro porque eles podem confiscar esses ativos. É difícil confiar no Ocidente como parceiro tecnológico porque ele pode dizer: 'Não fornecerei mais tecnologias, apesar de existirem contratos.' O Ocidente não pode ser confiável como país que honra contratos; pelo contrário, mostrou de todas as maneiras possíveis nos últimos anos que os contratos significam pouco para eles, violando assim o princípio básico do direito romano de que os documentos devem ser respeitados", apontou Putin.

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Sanções catalisaram desenvolvimento da Rússia

Apesar da tentativa de estrangular a economia do país, as sanções ocidentais desencadearam a reindustrialização e a substituição de importações da Rússia, observou Mitrakhovich. Além disso, o especialista não tem dúvidas de que o trabalho no Arctic LNG 2 continuará mesmo com pressão ocidental. O analista reconheceu que levará tempo e esforço para substituir a produção de transportadores de gás de classe de gelo adequados nas instalações de construção naval da Rússia, diante da paralisação na Coreia do Sul, porém o país possui outro parceiro tecnológico na Ásia.
"Eu ficaria feliz em ver a cooperação russo-chinesa no campo da construção naval", disse o especialista, referindo-se às vastas oportunidades ainda não exploradas no setor. Além disso, existem várias alternativas de como prosseguir com o projeto sem atrasos significativos, pontua Mitrakhovich.
"Uma opção é mover a segunda e a terceira linhas do Arctic LNG 2 para a região de Murmansk, perto dos locais onde estão sendo construídas tecnologicamente. O interessante sobre a transferência é que a partir daí o gás pode ser exportado para os mercados mundiais. Por exemplo, pode ser exportado para a Ásia sem passar pela barreira de gelo. Em outras palavras, serão necessários navios-tanque regulares, em vez dos de classe de gelo", sugere.
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Opções ocidentais são limitadas

Além disso, as capacidades do Ocidente de dificultar os principais projetos de GNL da Rússia são limitadas, conforme o especialista ouvido pela Sputnik.
Mesmo que o Parlamento europeu tenha aprovado recentemente opções legais para bloquear as importações de GNL russo e os EUA tenham também prometido impor novas sanções, outros jogadores globais continuam a impulsionar a cooperação energética com Moscou, enfatizou Mitrakhovich.

"Há 30 anos, em 1994, quando houve um momento unipolar dos EUA, os norte-americanos podiam fazer quase tudo no mundo, e poucas pessoas podiam resistir a eles. Agora a situação mudou. Existem países que agem de forma independente na arena mundial. Estes são a Rússia, a China e a Índia, e podem usar suas tecnologias, expandir o comércio mútuo, e assim por diante. Portanto, os EUA não serão capazes de sufocar completamente a independência desses países", destacou.

Para o especialista, as ações agressivas de Washington no cenário mundial ainda aceleram o ritmo de aproximação entre os principais players da Eurásia, destacou o especialista. "Os chineses veem como os americanos estão agindo sem cerimônia. E, de fato, todos esses ataques norte-americanos contra a Rússia estão sendo estudados ativamente na China. Acredito que isso acabará empurrando os chineses para se concentrarem mais na cooperação com a Rússia em vez de com os Estados Unidos", disse.
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"Acho que o projeto [russo-chinês] Power of Siberia 2 precisa ser acelerado, porque em caso de confusão em Taiwan, os norte-americanos poderiam limitar o fornecimento de todos os tipos de commodities para a China por mar. E se houver um gasoduto da Rússia, [a China não sofreria com um possível bloqueio de energia]. As exportações de GNL da Rússia também poderiam ser redirecionadas para a China […] ao longo da segura Rota Marítima do Norte", disse ele.

O Ocidente pode jogar areia nos mecanismos da Rússia, mas não pode deter o desenvolvimento industrial e tecnológico do país com base em seus vastos recursos, expertise e ligações internacionais, concluiu o especialista.
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