Sanções dos EUA contra o Irã podem fazer gasolina doer no bolso dos americanos, dizem analistas
Observadores do mercado alertam que os preços do petróleo podem disparar se o conflito entre Israel e o Irã se transformar em um conflito regional mais amplo. Caso a gestão Joe Biden coloque novas sanções às exportações de petróleo do Irã, isso também poderá elevar os preços, dizem os analistas à Sputnik.
SputnikAntes do
ataque retaliatório do Irã contra Israel, os preços do petróleo dispararam, mas recuaram ligeiramente após a ofensiva de
Teerã. Na segunda-feira, o Brent recuou 0,9%, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) caiu 0,8%.
"O impacto do ataque do Irã nos preços do petróleo mal foi perceptível pelo simples motivo de que o fluxo de petróleo da região do Golfo não foi interrompido", explicou o economista internacional do petróleo e especialista em energia global, Mamdouh Salameh, à Sputnik.
"Isso, no entanto, poderia mudar se Israel retaliar, provocando assim uma resposta mais dura do Irã, que poderia levar a uma interrupção dos envios de petróleo pelo estreito de Ormuz."
O petróleo Brent está atualmente sendo negociado em torno de US$ 90 (cerca de R$ 475) o barril, mas Salameh prevê que poderá haver aumento em um futuro próximo.
Ele estima que o Brent flutuará entre US$ 90 e US$ 100 por barril ao longo do ano.
No entanto, o especialista alertou que, em caso de aumento das tensões entre Israel e Irã, o preço poderia ultrapassar US$ 100 e até atingir US$ 120 (R$ 634) por barril.
"O Irã não teve alternativa a não ser retaliar contra o ataque de Israel ao seu consulado em Damasco, na Síria, no qual dois comandantes de alto escalão do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica [IRGC, na sigla em inglês] foram mortos. Caso contrário teria perdido prestígio no mundo e teria sido retratado como um tigre de papel", disse Salameh.
Segundo ele, o Irã avisou Israel para não retaliar e disse que receberia uma resposta mais dura se o fizesse. "Estou convencido de que Israel vai responder de uma forma ou de outra, mas não imediatamente. Então estamos agora em uma espécie de calmaria antes da tempestade. Israel está sob forte pressão dos Estados Unidos e seus aliados para não responder."
A gestão Biden não quer qualquer aumento das tensões entre
os dois inimigos que poderia potencialmente levar a um bloqueio do
estreito de Ormuz.
A passagem marítima é reconhecida como uma das mais cruciais passagens de petróleo do mundo, com navios-tanque transportando cerca de 17 milhões de barris de petróleo bruto por dia, representando cerca de um quinto do consumo total mundial.
Se o estreito fosse bloqueado, diz o especialista,
é provável que os preços globais do petróleo aumentem, resultando em mais dor no bolso dos consumidores americanos no posto de gasolina logo antes das
eleições presidenciais de 2024.
"Contudo, a administração Biden sinalizou que irá impor sanções adicionais às exportações de petróleo bruto iraniano, principalmente para a China", observou Salameh. "Para isso, os EUA também podem decidir impor restrições a organizações financeiras e bancos chineses supostamente envolvidos nas compras chinesas de petróleo iraniano."
A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse estar preparando "novas sanções" para o Irã.
Os congressistas americanos também não estão de braços cruzados, e avançam com ato de sanções energéticas Irã-China de 2023, que prevê os bloqueios nas exportações de petróleo iraniano e na compra de petróleo ou de produtos petrolíferos da República Islâmica pela China.
Os legisladores americanos expressam indignação com o fato de as exportações de petróleo do Irã terem atingido o maior nível em quatro anos, de 1,5 milhão de barris por dia este ano.
Cerca de 80% do petróleo bruto iraniano é enviado para refinarias independentes da China. "A verdade é que quaisquer sanções adicionais ao Irã não se sairão melhor do que as existentes", afirmou Salameh.
Para ele, restringir as exportações de petróleo do Irã pode se voltar contra a administração Biden.
Sem uma substituição imediata para o petróleo iraniano que poderia ser perdido, especialmente porque os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo + (OPEP+) decidiram continuar a reduzir a produção e as exportações por enquanto, poderia haver um impacto significativo no mercado.
O especialista alerta que, como a China é um dos maiores consumidores de petróleo iraniano, eles não teriam escolha a não ser competir por petróleo de outras fontes se as exportações do Irã fossem prejudicadas. Isso poderia potencialmente levar a mais instabilidade no mercado global do recurso.
"O fator China recebeu um grande impulso ontem quando foi anunciado que a economia da China cresceu 5,3% no primeiro trimestre de 2024, superando sua própria projeção de 5,0%", disse Salameh. "Esse fator muito otimista se somará aos crescentes sentimentos otimistas sobre a demanda global por petróleo, que de qualquer forma é sustentada por fundamentos sólidos, demanda robusta e um mercado cada vez mais restrito."
Apesar da exibição de força, a administração Biden provavelmente não tomará medidas significativas contra o Irã, acredita o presidente da Cornerstone Analytics, Michael Rothman.
O fundador da consultoria sediada nos EUA, focada em pesquisa macroenergética, entende que "isso parece ter uma probabilidade quase zero, dado que a administração Biden realmente afrouxou as medidas de conformidade dos EUA com as sanções existentes ao Irã que, de fato, permitiram o aumento das exportações de petróleo do país ao longo do último ano".
Outra questão potencial que pode surgir com o aumento dos preços do petróleo é o risco de aumento da inflação.
Isso, por sua vez, poderia prejudicar o crescimento econômico no Ocidente e resultar em atrasos nos cortes de taxas pelos bancos centrais ocidentais. Nessa situação, quaisquer ações militares ou econômicas tomadas contra o Irã por Israel ou países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estariam repletas de riscos substanciais.