Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim afirmou que vai defender a participação da Rússia no grupo de países do Ocidente que estão discutindo possíveis soluções para conflito:
"A Suíça se envolveu no tema e tentou buscar um pouco de equilíbrio. Mas parece que esse equilíbrio ainda não foi alcançado, embora eles [os suíços] também admitam que não pode haver diálogo verdadeiro se não houver participação da Rússia", declarou o diplomata brasileiro ao jornal.
"Eles estão aceitando um pouco a visão ucraniana, de que isso seria em um outro momento. Só que acho que a gente nem chegará a um outro momento se não tiver uma conversa com os russos. Não sei se a célebre frase do Garrincha se aplica: já combinou com os russos?", brincou ele.
Ele também comentou as recentes declarações do presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, de que seria um erro Lula se reunir com Vladimir Putin e que não foi convidado para vir a Brasília.
"Todo mundo tem o direito de falar o que pensa. Não posso comentar declarações de um presidente. Temos interesse em ter um diálogo com ele, mas de forma adequada, em nível adequado", comentou.
Ele lembrou que foi a Kiev, no ano passado, e se encontrou com Zelensky e que Lula e o líder ucraniano se reuniram em Nova York, em setembro passado, na ocasião da Assembleia Geral da ONU.
Amorim citou ainda o BRICS como possível mediador do conflito entre os dois países que já dura mais de dois anos. Disse também que o "Brasil e China têm se coordenado nessa questão e poderiam contribuir" por meio de assuntos humanitários, ligados à segurança alimentar e à troca de prisioneiros, por exemplo.
"Temos de construir o clima para esse diálogo e acho que os países do BRICS podem contribuir, porque muitos deles — certamente é o caso do Brasil — têm uma boa relação com os vários lados. Essa não é uma questão que envolve só Ucrânia, mas também OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], EUA, França e Alemanha", ponderou ele.
Amorim tem reunião marcada neste sábado (20) com o conselheiro diplomático do presidente da França, Emmanuel Macron, Emmanuel Bonne, em Paris. Moscou e São Petersburgo serão os próximos destinos e a segurança do BRICS será o principal tema da agenda.
Em Moscou, tem reuniões marcadas com o chanceler Sergei Lavrov, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nicolai Patrushev, o assessor diplomático do presidente Vladimir Putin, Yuri Ushakov.
A Alemanha será o último destino do diplomata brasileiro que tem encontros agendados com o assessor especial do chanceler alemão Olaf Scholz, Jens Plotner, e o ministro federal para Assuntos Especiais, Wolfgang Schmidt.