A investigação da Sputnik sobre uma
suposta campanha sistemática e financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês para retirar do cargo o
primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, parece ter causado impacto nas eleições da última semana. O objetivo do governo norte-americano seria punir o político por conta do por seu
realinhamento estratégico gradual de Washington para Pequim.
"Nós refutamos veementemente as alegações feitas em meios de propaganda conhecidos que afirmam que a USAID e o governo dos EUA buscaram influenciar a próxima eleição nas Ilhas Salomão", disse a embaixadora dos EUA para as Ilhas Salomão, Papua Nova Guiné e Vanuatu, Ann Marie Yastishock, em uma declaração dias antes do processo eleitoral.
Ao enfatizar que as alegações "categoricamente falsas", Yastishock sugeriu que os esforços da mídia para apontar a
suposta interferência eleitoral de Washington, e não a suspeita de interferência em si, era a raiz do problema.
"O comentário da embaixadora dos EUA é extremamente hipócrita", disse a fonte que forneceu à Sputnik informações e documentos sobre a suposta campanha da USAID no país, em uma mensagem privada.
"Ela não negou o apoio da USAID para líderes políticos e comunitários locais das Ilhas Salomão, mas continuou defendendo e glorificando a ajuda, atendendo aos requisitos do país alvo", disse.
A fonte declarou ainda que
reportar as supostas atividades nefastas da USAID pode ter forçado os EUA e suas redes locais a "recuar por um tempo", com a votação ocorrendo "relativamente pacificamente".
Quase uma semana após a votação, a contagem continua – em parte devido a problemas logísticos de transportar as urnas de comunidades remotas nas cerca de 150 ilhas do país. Nesta terça-feira (23), candidatos do partido do primeiro-ministro Sogavare estavam na liderança, com 23% dos votos contados, seguidos por independentes, com 22%, e o Partido Democrático da oposição, o Partido Unido e o Partido para Avanço Rural ganhando 18,7%, 14,5% e 4,9%, respectivamente.
Os eleitores das Ilhas Salomão elegem seu governo usando um sistema de "o vencedor leva tudo", o que significa que qualquer partido que ganhe uma pluralidade de votos em cada um dos 50 distritos em disputa ganha o assento no Parlamento.
Por essa medida, o partido governista deve levar 13 assentos; os independentes, 10; o Partido Democrático, 8; quanto ao Partido Unido 7 e o Partido Aliança Democrática, cada um teria 4 assentos. Para formar um governo de coalizão, são necessários 26 ou mais assentos, tornando o apoio dos independentes crucial no ciclo eleitoral atual.
"Embora a embaixadora dos
EUA para as Ilhas Salomão tenha todo o direito a sua própria opinião, seria muito difícil para ela explicar, muito menos justificar, a elevação da presença dos EUA ao nível de embaixada se não fosse pela reorientação do primeiro-ministro desta nação insular estratégica em direção a Pequim e longe de Washington", disse à Sputnik o professor Joe Siracusa, cientista político veterano nascido nos EUA e reitor da Global Futures na Curtin University, na Austrália.
As Ilhas Salomão podem ser consideradas um país pequeno e pouco povoado, mas têm grande potencial estratégico graças aos seus portos e localização geográfica, diz Siracusa.
Com as Ilhas Salomão situadas na linha de uma
nova Guerra Fria entre os EUA e a China na região Ásia-Pacífico, ambos os
países e a Austrália têm observado as eleições recentes "muito de perto," vendo-a como um "indicador" de atitudes regionais à medida que a competição entre grandes potências esquenta.