O referendo realizado no Equador, no último domingo (21), concede aos Estados Unidos maior controle sobre assuntos internos do país, além de aumentar a militarização da sociedade equatoriana. É o que afirmou a socióloga Irene León, diretora da Fundação de Estudos, Ação e Participação Social do Equador (Fedaeps).
Em entrevista concedida à Agência Brasil, ela alertou que as medidas propostas pelo presidente equatoriano, Daniel Noboa, têm caráter mais midiático do que efetivo, e resultarão em uma militarização da sociedade.
"As perguntas que foram colocadas amplificam essa possibilidade de que os militares possam atuar sem responsabilidade frente às leis do país. Amplia a capacidade deles também de atuação em questões que são civis", afirma a socióloga.
No domingo, 60% dos 13 milhões de eleitores registrados no Equador foram às urnas para responder a um questionário elaborado por Noboa, que trazia 11 questões. Entre as questões em que a maioria respondeu "sim", estavam as que permitiam às Forças Armadas do Equador atuarem como força complementar às políticas de combate à criminalidade e autorizam os militares a controlar vias de acesso a presídios do país.
Segundo a socióloga, a militarização proposta no referendo, somada ao fato de que o governo equatoriano firmou acordos militares com os EUA, coloca em risco a soberania do Equador, uma vez que concede a Washington maior poder sobre o país.
"Porque está ligada a acordos internacionais que os governos, especialmente o último, vêm fazendo com os Estados Unidos. Esses acordos dão aos Estados Unidos o direito de controlar a terra, o mar, o ar, o ciberespaço e, mesmo, de ter tropas no Equador com o status diplomático, e regidas pelo status político do governo dos Estados Unidos", afirma León.
O governo equatoriano firmou dois acordos militares com os EUA em fevereiro deste ano. Os acordos firmados por Noboa foram elaborados ainda na gestão de seu antecessor no cargo, o ex-presidente Guillermo Lasso. Os acordos permitem parcerias entre os países no combate ao narcotráfico, mas muitos de seus pontos não foram divulgados pelo governo.
O Equador vive uma crise de segurança por conta de gangues e facções criminosas que, entre outras coisas, promovem sequestros, ataques e explosões. Em 9 de janeiro, a onda de violência no país ganhou os noticiários internacionais após uma emissora de televisão ser invadida por criminosos durante a transmissão ao vivo de um telejornal. Logo após o ataque, Noboa declarou estado de emergência no país e decretou um toque de recolher às 23h.