Segundo o cientista político Viktor Mizin, os norte-americanos gostariam muito que a Turquia fosse o seu satélite e posto avançado contra a Rússia, como foi na década de 1950. Para o especialista, eles estão incomodados pelo fato de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chefe da primeira potência regional, praticar há mais de 20 anos uma política independente no Oriente Médio, na Líbia e na Síria, especificou.
"Agora a Turquia tem uma política diferente e as relações entre os EUA e a Turquia são extremamente tensas. Muitos especialistas conservadores norte-americanos já não consideram a Turquia um país amigo como antes. O fato é que a classe dominante dos EUA está farta da política soberana de Erdogan", argumentou o especialista.
Além disso, a situação é complicada pela posição de Washington sobre o opositor Fethullah Gulen (líder da FETO, organização considerada terrorista na Turquia), que vive nos Estados Unidos. Os líderes norte-americanos se recusam a deportá-lo para a Turquia para ser julgado, lembrou Mizin.
"Esta é uma questão sensível e de princípio para Ancara, e Washington não quer se comprometer com o que poderia parecer ser seu aliado", comentou.
Entretanto, o especialista sublinhou que um importante ponto de discórdia entre a Turquia e os Estados Unidos é a tentativa de golpe militar de 2016, sobre a qual a Rússia alertou a Turquia. "O governo turco acredita, não sem razão, que estes soldados foram treinados em escolas militares norte-americanas", disse Mizin.
As ações dos EUA no Oriente Médio também complicam as relações com Ancara, indicou o cientista político. Washington continua fornecendo armas a Tel Aviv. O líder turco, por sua vez, apoia o povo palestino. Erdogan, depois de se reunir com o chefe do movimento palestino Hamas, Ismail Haniyeh, declarou o seu total apoio à luta palestina, destacou o especialista.
"É claro que existem contradições entre as duas abordagens aqui. Os serviços de inteligência norte-americanos estão muito preocupados com a questão israelense e, no âmbito de uma possível visita, o lado dos EUA tentará persuadir Erdogan a mudar a sua posição. No entanto, tenho a certeza de que isso é impossível", enfatizou.
Falando sobre as tendências nas relações EUA-Turquia na fase atual, Mizin destacou que o adiamento da visita de Erdogan a Washington é um indicador controverso. Este tipo de esforços diplomáticos e adiamentos de visitas oficiais de Estado são um alerta que reflete os problemas crescentes de interação, explicou.
"O constante adiamento da visita é mais uma indicação de que para os norte-americanos a Turquia não é definitivamente um aliado claro, esta relação é muito problemática", concluiu.
Anteriormente, a viagem planejada do presidente turco aos Estados Unidos foi adiada e deve ocorrer em um momento conveniente para ambas as partes, informou o Ministério das Relações Exteriores turco.