O Reino Unido terá que superar uma série de problemas científicos fundamentais antes que possa se tornar uma potência hipersônica; o financiamento é apenas parte da equação, diz o especialista russo em mísseis Dmitry Drozdenko.
Fontes relataram ao jornal britânico The Telegraph que o Ministério da Defesa do Reino Unido está coordenando o desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro hipersônico totalmente britânico com a capacidade de acelerar a velocidades acima de Mach 5 (6.125 km por hora - o limiar da velocidade hipersônica).
Espera-se que a iniciativa de até £ 1 bilhão (R$ 6,3 bilhões) consiga produzir estes projéteis para o Exército até o ano de 2030. O projeto foi aprovado pelo governo como parte de uma revisão de defesa de £ 75 bilhões (R$ 479,1 bilhões). Informa-se que o projeto está em estágio inicial de desenvolvimento, ainda sem decisão sobre se o míssil será de lançamento terrestre, marítimo ou aéreo.
As fontes elaboraram que os materiais de fabricação nacional que poderiam suportar o calor extremo gerado por projéteis voando e manobrando em velocidades extremamente altas (uma marca da verdadeira capacidade hipersônica) não existem e devem ser criados a partir do zero.
Velocidade não é tudo
O Reino Unido terá dificuldades em colocar em prática seu míssil de cruzeiro hipersônico pelo prazo auto-imposto do Ministério da Defesa, com os cientistas britânicos precisando primeiro resolver uma extensa série de problemas científicos fundamentais que a URSS e a Rússia levaram décadas para resolver, diz Dmitry Drozdenko, um renomado analista militar russo e especialista em mísseis.
"Basicamente, os objetos que voam em velocidades hipersônicas se movem em uma nuvem de plasma, e o plasma é o quarto estado da matéria, que não transmite sinais de rádio e se comporta de forma diferente" em comparação com outros estados físicos, disse Drozdenko à Sputnik.
"Ou seja, para superar esses fenômenos físicos e aprender a usá-los, seria necessário ter um conhecimento científico fundamental no campo da física dos corpos, da dinâmica da física e da ciência dos materiais. Isso implica não alguns engenheiros de projeto, computadores ou bilhões em financiamento, mas cientistas que trabalham em universidades e institutos", enfatizou Drozdenko.
Não é por acaso que a Rússia foi o primeiro país do mundo a desenvolver armamento hipersônico, observou o especialista, apontando para o conhecimento acumulado em física de plasma durante a Guerra Fria.
"Os americanos têm bons cientistas, mas simplesmente não atingiram esse nível", ressaltou Drozdenko, acrescentando que, no que diz respeito ao Reino Unido, "seu nível de competência nesta área é ainda menor que o dos americanos".
O importante é a capacidade de manobra
Acelerar um míssil ou aeronave a velocidades de Mach 5 ou acima é uma coisa, mas o principal problema é a plataforma ser capaz de manobrar em voo. Essa é a verdadeira medida padrão de um míssil hipersônico, observou o especialista em mísseis.
"Um certo fetiche existe em torno das [armas] hipersônicas hoje. A tarefa não é obter um projétil voando a velocidades hipersônicas. Um projétil de tanque voa a uma velocidade hipersônica no momento em que sai do cano do canhão do tanque. Qualquer veículo que reentre na atmosfera a partir do espaço está viajando a uma velocidade hipersônica. Esse não é o problema. A questão não é voar a essa velocidade, mas ser capaz de manobrar nessa velocidade", enfatizou.
Caso contrário, se um míssil voando a velocidades hipersônicas é capaz de voar apenas em trajetórias aerobalísticas, ele permanecerá previsível e incapaz de manobrar para contornar as defesas aéreas inimigas.