Panorama internacional

Analista: sob pressão, Netanyahu pode 'ampliar guerra ou voltar a provocar Irã' para ficar no poder

Nos últimos dias, tem sido ventilada a possível decisão do TPI de emitir mandados de prisão contra o premiê israelense e o seu círculo íntimo devido à forma como Tel Aviv conduziu sua campanha militar em Gaza. Para especialista ouvido pela Sputnik, a situação aumenta drasticamente os riscos de um conflito regional.
Sputnik
Israel não faz parte do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) e não reconhece a jurisdição do tribunal com sede em Bruxelas. No entanto, a Palestina é membra desde 2015, e a sua jurisdição inclui a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Os Estados Unidos, que disseram na segunda-feira (29) não apoiar a investigação em Haia contra Israel, abandonaram o tribunal em 2002, antes de lançarem a sua guerra de agressão contra o Iraque.
A ameaça do mandado de prisão de Haia, combinada aos planos dos EUA de sancionar um batalhão radical das Forças de Defesa de Israel (FDI) (que aparentemente foi arquivado por enquanto), constitui um esforço de "baixa qualidade e mal disfarçado" das potências ocidentais para pressionar Netanyahu a fazer um acordo com o Hamas, pôr fim à guerra e, em última análise, concordar com a criação de um Estado palestino, afirmou o pesquisador de Ciência Política e Assuntos Internacionais baseado em Tel Aviv, Simon Tsipis.
"Um acordo com o Hamas significaria a derrota de Israel na guerra, e o cancelamento da operação em Rafah, e uma revolta do campo de direita contra Netanyahu, a saída de políticos e ministros de direita do governo, seu colapso e novas eleições", analisou Tsipis, entrevistado pela Sputnik.
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Isso coloca Netanyahu em uma "situação muito difícil, pode-se dizer desesperadora", sublinhou o especialista, alertando que "faça o que fizer, significará uma grande crise dentro de Israel e internacionalmente".

"Nesse contexto, a situação torna-se ainda mais perigosa, pois a sua única hipótese de sobreviver politicamente nesta luta e sob esta pressão é desencadear uma guerra regional ainda maior. Isso não pode ser excluído, uma vez que as provocações israelenses contra o Irã sob a liderança de Netanyahu continuam. É bem possível que ocorra um terceiro resultado nessa situação: provocações contra o Irã e o início de uma guerra regional em grande escala com o Irã. Essa é a única coisa que pode salvar Netanyahu, permitir-lhe permanecer no poder, escapar da responsabilidade e evitar o colapso do governo. Portanto, a situação é extremamente difícil, com tudo basicamente a depender dessa pessoa", analisou Tsipis.

Entretanto, se o TPI avançar com mandados contra a liderança israelense, isso ameaçaria não só Netanyahu, mas também a posição de Israel no mundo.

"Se um mandado de prisão for emitido, servirá como um vento favorável para os protestos anti-Israel. Aumentarão e provavelmente assumirão uma forma mais violenta não só nos EUA, mas em todo o mundo, porque se o TPI cumprir suas ameaças, será um sinal de legitimidade para as ondas de protestos. Nesse momento, esses protestos são considerados ilegítimos pela maioria dos governos onde ocorrem [...]."

Quanto ao lobby dos políticos dos EUA em nome de Israel com planos para pressionar a Casa Branca a impedir o avanço do TPI, o acadêmico acredita que estes esforços se resumem à existência de um lobby israelense "muito poderoso" no establishment político norte-americano.
"A maioria dos políticos da atual administração estão ligados, muito fortemente ligados, ao lobby judeu, e o lobby judeu tem uma série de pessoas que saem para pressionar os políticos dos EUA. Portanto, eu diria que para os Estados Unidos, para Joe Biden, a preocupação com os americanos e com a América e a preocupação com Israel são praticamente iguais. Israel tem uma capacidade tão poderosa de pressionar e influenciar os EUA que, de fato, os líderes estadunidenses preocupam-se com Israel tal como se preocupam com os americanos", acrescentou o analista.
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Congressistas norte-americanos chegaram a elaborar uma lei para sancionar os membros do TPI que participam de investigações "contra os Estados Unidos e seus aliados", informou o portal Axios na segunda-feira (29), citando o chefe do Comitê das Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, Michael McCaul.
Nesta quarta-feira (1º), o secretário de Estado, Antony Blinken, desembarcou em Israel para pressionar por um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza. No entanto, segundo o The Wall Street Journal, Blinken encontrará Netanyahu em uma posição mais forte e menos suscetível a pressões do que estava há várias semanas. Ontem (30), o premiê disse que o "TPI não tem autoridade sobre Israel".
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