A recalibragem da política externa de Berna tem sido apontada como real por ambos os lados: tanto por parte dos defensores suíços de uma cooperação mais estreita com as potências ocidentais como os opositores nacionalistas, que dizem que a Suíça está abandonando a sua tradição neutra.
Em vez de pôr fim ao conflito, a cúpula está preparada para trabalhar no sentido de mitigar os riscos decorrentes da operação russa na Ucrânia e de tentar isolar Moscou, de acordo com diplomatas ocidentais e especialistas suíços no assunto ouvidos pela Reuters.
"Trata-se de fortalecer a Ucrânia, em vez de construir pontes para a paz imediata", disse Daniel Woker, antigo embaixador suíço em Cingapura, Austrália e Kuwait.
Já Thomas Borer, ex-embaixador suíço na Alemanha, afirmou que os interesses comerciais e de segurança da Suíça estão esmagadoramente ligados à Europa Ocidental, à América do Norte e aos seus aliados, tornando estrategicamente imperativo apoiar a Ucrânia.
"Nem os russos nem os nossos aliados ocidentais nos consideram neutros", disse ele, acrescentando que "os protestos de neutralidade do governo não mudariam isso".
Os suíços, defensores de um alinhamento ocidental mais próximo, também observam que Berna está quase completamente cercada por países da OTAN, que funcionam como uma barreira contra potenciais intrusões externas.
"A neutralidade é uma desculpa para um país que basicamente está aproveitando a segurança que outros proporcionam", disse Franziska Roth, legisladora suíça pelo Partido Social Democrata (SP).
O Partido Popular Suíço (SVP), o maior grupo na câmara baixa do Parlamento suíço, argumenta que a neutralidade é parte integrante da prosperidade da Suíça e que o apoio de Berna à Ucrânia a mina.
A figura mais emblemática do partido, Christoph Blocher, criticou neste mês a cúpula, dizendo que o fato de não ter convidado a Rússia não era um bom presságio para a Suíça: "Estamos trazendo apenas os ucranianos e dizemos que somos neutros", afirmou.
De fato, Moscou não foi convidada para o evento de 15 a 16 de junho que acontecerá em Lucerna.
A Rússia disse que não é contra as negociações pela paz, mas mesmo que fosse convidada, não participaria porque não considera Berna um ator neutro, uma vez que o país se uniu ao esforço unilateral ocidental nas sanções contra Moscou, descredibilizando assim seu papel como mediador em relação ao conflito.
Respondendo a um pedido de comentário da Reuters, o Ministério das Relações Exteriores da Suíça disse que a neutralidade suíça é "constante" e não será alterada pela conferência.