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'Não é necessário fazer estoque', presidente da Conab crava que arroz não vai sumir dos mercados

As grandes chuvas que vêm assolando o Rio Grande do Sul causaram e seguem causando grandes estragos, sejam ambientais, sociais ou econômicos.
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Esses impactos não ficam restritos aos municípios gaúchos. Pelo contrário, o Brasil inteiro sente as consequências, sobretudo no que diz respeito à alimentação. Como é o caso do arroz, produto fundamental no prato do brasileiro. Afinal, o Rio Grande do Sul é responsável pela produção de 70% desse item da cesta básica.
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Em exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, salientou que a importação do produto é um movimento do governo federal para evitar a prática de valores acima da média, como ocorria em outras situações durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"É uma medida de prevenção que nós estamos tendo. Nós teremos que importar justamente para fazer uma cobertura nacional, já que está muito concentrada a produção aqui e para evitar que esse transporte demore e deixe regiões descobertas", explicou acerca da decisão à reportagem.

Protagonismo do Mercosul

Questionado de onde viria a importação do arroz, o presidente do órgão sinalizou que será inteiramente importado do Mercosul. Há até um milhão de toneladas de arroz a serem importadas. A decisão foi tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao assinar o decreto, no último dia 9, para que a importação fosse iniciada. Contudo, existe um cuidado, segundo Pretto, para que o produto comprado de fora não compita com o mercado nacional.

"A decisão que foi tomada, orientada pelo presidente Lula, através de uma medida provisória que foi publicada no dia 9, é dar para a Conab autorização para que a gente possa importar até um milhão de toneladas de arroz do Mercosul. [...] Estamos tendo um cuidado, porque nós não vamos trazer esse produto todo de uma vez só. Nós também temos que ter o cuidado de não trazer produto de fora e competir com a nossa produção nacional. Então nós temos uma autorização, e agora estamos preparando o edital para lançar o leilão", informou em entrevista.

Segundo Pretto, serão importadas, inicialmente, 104 mil toneladas de arroz. A Conab quer, segundo pontuou, avaliar com toda a sensibilidade e todo o cuidado o que realmente será necessário, para não deixar regiões descobertas e evitar especulação. "[…] alguém ainda [pode] querer se aproveitar dessa tragédia que aconteceu no Rio Grande do Sul para subir o preço para o consumidor."

Informações falsas no caminho

Em meio à enxurrada de informações falsas, o trabalho realizado pelos órgãos nacionais enfrenta algumas dificuldades. Nesse meio tempo, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência está ajudando no esclarecimento sobre as fake news propagadas acerca da suposta ausência de ação do Poder Público federal.
Segundo o presidente da Conab, essas desinformações atrapalham a atuação do órgão que está trabalhando para evitar que o arroz, um produto sensível, falte nas prateleiras dos mercados.

"Pessoas usando fake news, instigando pessoas a ir ao supermercado, comprar, fazer estoque. Não é necessário isso! É isso que pode causar problemas quando as pessoas compram demasiadamente, sem necessidade, para deixar guardado em casa", criticou.

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Ele continua: "Não tem essa necessidade [de fazer estoque em casa]! O arroz é a parte mais sensível e, por isso, nós estamos tomando essa medida. Mas, obviamente, de uma forma controlada. E nós queremos abastecer especialmente os pequenos comerciantes, os pequenos varejistas que se abastecem nos grandes atacarejos, porque esses pequenos não têm estoque, e nós não podemos deixar também a população, especialmente nas periferias, descoberta."
O órgão vai estabelecer o preço em que o atacadista vai comprar e, também, o máximo que ele pode vender para a população, para que esse arroz chegue a um preço acessível à população.

Estoque zerado?

Questionado sobre a falta de estoque nacional para evitar os "superpreços" que ocorrem em situações semelhantes, Edegar Pretto afirmou que a ausência se deu devido ao governo anterior, que desmontou o órgão.

"O Brasil deixou de fazer estoque no governo passado. Foram seis anos que não foi feita uma política de estoque público. Em 2007, no segundo governo do presidente Lula, […] nós [da Conab] tínhamos 2 milhões de toneladas de arroz estocado [nos armazéns]. Estou falando desse produto que é sensível, mas tinha feijão, tinha farinha de mandioca, tinha trigo, tinha milho. Os estoques eram regulados pelo governo. E aí, você, tendo estoque público, também pode controlar preços", sublinhou.

Ele continuou: "O governo passado fechou 27 unidades armazenadoras da Conab. Ainda temos 64 em funcionamento e algumas precisando de investimento porque também não foi feito investimento em seis anos."

A ausência do arroz poderia gerar uma crise de segurança alimentar?

O Brasil figura como protagonista na iniciativa global contra a fome. Acerca disso, o presidente do órgão disse que esse protagonismo não será perdido e que não há risco de desabastecimento nas prateleiras e dentro da casa dos brasileiros.
"Nós estamos muito dedicados a garantir um aumento da produção do alimento para o nosso consumo interno. Porque, além disso, não vai faltar, obviamente, não tem risco de desabastecimento. Mas nós temos que ter, por parte do governo, do poder público, a possibilidade de fazer esse equilíbrio. Garantir lucro para o agricultor, mas não deixar que o consumidor pague caro demais pela alimentação. Nos quatro anos do governo passado, a inflação geral foi de 30%, em média, e a inflação dos alimentos chegou a 57%", arrematou.
"E nós vamos fazer, então, os estoques públicos, que é a forma que o poder público e o governo federal têm de fazer esse equilíbrio de preço também para os consumidores", finalizou Pretto.

Iniciativa global contra a fome

Rodrigo Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania contra a Fome a Miséria e pela Vida, destacou os esforços do Brasil em se juntar à luta global contra a fome. Em entrevista exclusiva, ele expressou otimismo em relação às políticas recentes do governo, que visam apoiar a produção de alimentos e recriar estoques reguladores.

"O Brasil entra na iniciativa global contra a fome no rumo certo. […] As políticas que estão sendo adotadas por esse governo [Lula] vão de encontro a isso, […] no sentido de fazer políticas de apoio à produção de alimentos que a gente consome, de recriar os estoques reguladores de alimentos, de diversificar a plantação no Brasil. Então o Brasil tem no lugar certo a aplicação das políticas públicas nesse momento", cravou à Sputnik Brasil.

No entanto, Afonso alertou para o baixo investimento financeiro e a lentidão na implementação dessas medidas, destacando a urgência da situação para milhões de brasileiros.
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Ele evidenciou a necessidade de um enfoque global na produção de alimentos, criticando a dependência excessiva de importações que não levam em consideração as necessidades alimentares locais.
Afonso ressaltou que a ênfase na produção de commodities e alimentos ultraprocessados tem gerado riqueza para alguns países, mas contribuído para a pobreza em nações em desenvolvimento, como o Brasil. Com preços elevados e dificuldades de acesso, a população mais vulnerável enfrenta desafios significativos para se alimentar adequadamente.
"O Brasil tem muito a mostrar na aliança global contra a fome", finalizou.
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