No outono europeu de 1945, os militares americanos, franceses e britânicos lançaram uma onda de terror contra a população local na Berlim derrotada, incluindo espancamentos, roubos e estupros em massa sem nenhum motivo, de acordo com documentos de arquivo desclassificados pelo Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia.
Após a vitória em maio de 1945, as autoridades soviéticas organizaram na Administração Militar Soviética na Alemanha (SVAG, na sigla em russo) instituições de combate à resistência nazista, de busca e prisão de criminosos de guerra, contrainteligência, participação da formação de órgãos autônomos alemães, entre outras medidas, incluindo o monitoramento da situação e comportamento das tropas aliadas nas zonas americana, britânica e francesa de ocupação de Berlim.
"Como foi estabelecido, os casos de vandalismo, roubo e violência por parte dos militares americanos contra os alemães não cessam, e esses fatos estão aumentando diariamente", observou um relatório do major-general Aleksei Sidnev, chefe do setor de operações da Administração Militar Soviética de Berlim, para o coronel-general Ivan Serov, vice-comissário de assuntos internos da URSS e chefe do Comissariado do Povo para Assuntos Internos da URSS (NKVD, na sigla em russo) para a SVAG, datado de 9 de novembro de 1945.
Sidnev citou os casos mais flagrantes.
"No dia 21 de outubro deste ano, dois alemães, Friedrich Scholl, residente na Schwerinstrasse 15, e Karl Krycek, residente na Potsdamerstrasse 158, estavam voltando do trabalho para casa. Dois soldados americanos se aproximaram deles pela Potsdamerstrasse e pediram lume. Os americanos então dispararam tiros de suas pistolas sem motivo, ferindo Scholl no peito e Krycek no estômago. Estes últimos foram levados pela polícia em estado grave e enviados ao Hospital Augusta Victoria", relatou.
Em 19 de novembro de 1945, dois soldados americanos foram relatados como tendo tentado estuprar em 26 de setembro uma mulher e espancado um artista que tentou intervir.
Em um outro incidente, na noite de 26 de outubro de 1945, segundo o major-general soviético, dois caminhões com 40 a 50 militares americanos armados com fuzis "se aproximaram do restaurante Femina. Eles invadiram o estabelecimento, fecharam todas as entradas e saídas e, ameaçando com armas, forçaram os alemães a entregar todos os seus objetos de valor".
"Assim, em um período de 10 a 15 minutos, os americanos retiraram relógios, anéis de ouro, pegaram dinheiro dos alemães, pegaram golas de pele e outros objetos de valor das mulheres e depois fugiram", escreveu Sidnev.
Aleksei Sidnev também descreveu as atrocidades cometidas por militares franceses e britânicos, como na noite de 29 de setembro de 1945, quando Willy Born, um morador de Berlim, estava voltando para casa e foi atacado com uma forte pancada na cabeça por três soldados franceses. Born perdeu a consciência e caiu e, quando acordou, descobriu que "haviam sido retirados dois anéis de ouro, levados 300 marcos, uma carteira com documentos, cartões de racionamento e um pedaço de sabão".
Foram igualmente documentados casos de estupro entre os soldados aliados europeus.