Panorama internacional

Por um punhado de dinheiro: lucro de fabricantes de armas dispara enquanto economia israelense sofre

Próximo do 8º mês e com saldo de cerca de 40 mil mortos e 75 mil feridos, o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas tem sido muito conveniente para fabricantes de armas, que continuam a lucrar discreta e vertiginosamente com a guerra. Entretanto, os lucros são insustentáveis no médio prazo, dizem analistas à Sputnik.
Sputnik
O setor de defesa doméstico de Israel não é exceção. A mídia empresarial dos EUA tem alertado para os "paralelos assombrosos" entre os crescentes gastos militares de Israel durante a Guerra de Gaza e a "década perdida" do país na década de 1970, marcada por inflação descontrolada, déficits orçamentários fora de controle, crescimento estagnado e confiança vacilante dos investidores.
O Banco Central de Israel espera que a guerra em Gaza custe incríveis 250 bilhões de shekels (cerca de R$ 350 bilhões) até 2025, à medida que os gastos com defesa como proporção do PIB saltam de 5,3% para 9%.
Isso ocorre em meio a circunstâncias cada vez mais sombrias na economia civil, com o quarto trimestre de 2023 registrando queda de mais de 20% no PIB de Israel, enquanto o consumo caiu 27% e o investimento, 70%.
A potencial perda de fluxos de investimento, especialmente no setor de tecnologia, preocupa Tel Aviv.

"Não podemos nem começar a medir quantas pessoas decidiram não investir em Israel a curto prazo, quanto mais permanentemente", disse o economista do Instituto Shoresh, Dan Ben-David, à Bloomberg nesta quinta-feira (29).

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Mas enquanto a economia civil sofre, os fabricantes de armas de Israel não têm reclamações, ostentando lucros recordes, impulsionados pelo aval de Washington para uma ajuda militar sem precedentes de $17 bilhões (cerca de R$ 90 bilhões) mais de cinco vezes os cerca de de US$3 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) que Tel Aviv vem recebendo dos EUA anualmente desde o início dos anos 1980).
Uma parte dos fundos pode ser gasta em armas feitas em Israel: privilégio não concedido a outros aliados dos EUA, com aproximadamente meio bilhão de dólares também normalmente designados para pesquisas conjuntas entre os dois países em defesa antimísseis.
Os três gigantes da defesa de Israel (Indústrias Aeroespaciais de Israel (IAI), a Rafael Advanced Defense Systems e a Elbit Systems) tiveram aumento de preços das ações e de pedidos crescendo a um ritmo além de sua capacidade de produção.
A IAI relatou um crescimento de 7% nas vendas para US$5,3 bilhões em 2023 (cerca de R$ 30 bilhões) um salto de 49% no lucro líquido, com produção que varia de drones, mísseis, bombas, radares e artigos de guerra eletrônica a defesas espaciais. Sua lista de pedidos disparou para $18 bilhões.
A Rafael, fabricante de mísseis Tamir para o Domo de Ferro e uma variedade de outros mísseis de defesa aérea e antitanque e drones, registrou um aumento recorde de 21% nas vendas e um aumento espetacular de 85% no volume de pedidos, com lucros líquidos atingindo US$158 milhões (cerca de R$ 822 bilhões), um salto de 17% desde 2022. A lista de pedidos ultrapassam US$14 bilhões (cerca de R$S 70 bilhões).
A Elbit, fabricante de grande parte dos componentes essenciais ou internos das armas israelenses, além de drones, equipamentos de comunicação, armas leves, munições cluster e veículos blindados, viu os lucros aumentarem 8% em 2023, com receitas alcançando quase US$ 6 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões), e os resultados do primeiro trimestre de 2024 esta semana mostrando $1,6 bilhão (cerca de R$ 8,3 bilhões) em receitas, além de lista de pedidos de $20,4 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões).
Israel está entre os dez maiores exportadores de armas do mundo, representando cerca de 2,5% do mercado global de armas entre 2019 e 2023. Os principais clientes incluem os Estados Unidos, Reino Unido, Europa continental, Azerbaijão, Índia e Vietnã, com drones e mísseis sofisticados entre os artigos de exportação mais procurados.
Entretanto, Tel Aviv reduziu as exportações para o exterior a partir do quarto trimestre de 2023, à medida que o setor de defesa se reorientou para as necessidades domésticas – impulsionado pela assistência militar dos EUA.
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Lucros vertiginosos do complexo militar-industrial israelense não devem durar

A campanha em Gaza é uma "faca de dois gumes" para a indústria de armas de Israel, disseram observadores à Sputnik, destacando que, embora os gigantes da defesa israelenses possam se beneficiar no curto prazo com o atual aumento nos pedidos, a reputação diplomática de Tel Aviv pode prejudicar os negócios.

"Não acho que tenha sido a mais ilustre demonstração de armas militares", disse Earl Rasmussen, veterano observador de assuntos internacionais e militares e ex-tenente-coronel do Exército dos EUA, à Sputnik, quando perguntado se a indústria de defesa de Israel se beneficiou ou foi prejudicada pelas operações israelenses em Gaza.

Ele disse acreditar que a demanda por seus produtos pode diminuir devido à queda na reputação do país frente ao restante do mundo:

"No sentido político, Israel se isolou devido ao que está acontecendo em Gaza. O que deveria ter sido uma entrada e saída muito rápidas agora se arrasta por sete meses, e não sei se há fim à vista até que eles nivelem toda a Faixa de Gaza", disse o militar aposentado.

Ainda segundo Rasmussen, muitos exércitos estrangeiros e países interessados em algumas das tecnologias de ponta de Israel estão mais hesitantes em busca de outras oportunidades ou tecnologias concorrentes devido ao que ele chamou de "genocídio" e "limpeza étnica" ocorrendo em Gaza.
O diplomata italiano e ex-conselheiro de política externa do primeiro-ministro, Marco Carnelos, concorda com essa avaliação, dizendo à Sputnik que, militarmente, a campanha em Gaza pode ter trazido alguns benefícios ao estabelecimento militar de Israel, mas politicamente tem sido suicida.

"Politicamente falando, não vejo de que maneira Israel tem se beneficiado ao travar a guerra em Gaza. Seus principais líderes receberam mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional e um julgamento por genocídio está pendente contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça," disse Carnelos. "Militarmente falando, as Forças Armadas de Israel ganharam mais conhecimento e experiência em realizar guerra urbana em Gaza nos [últimos] sete meses, talvez testando novas técnicas e armas. O mesmo vale para seus inimigos – que após uma destruição generalizada ainda são capazes de enfrentar as forças israelenses," comentou.

As capacidades de dissuasão e a reputação de Israel aos olhos do mundo sofreram um golpe durante a crise em Gaza, com o Hamas demonstrando ser capaz de resistir por mais de sete meses de intenso bombardeio e operações terrestres israelenses nas ruínas bombardeadas dos 365 quilômetros quadrados da faixa de terra, ponderou o diplomata.
O fracasso das Forças de Defesa de Israel e aliados ocidentais para conter os ataques da milícia houthi do Iêmen no mar Vermelho ao transporte marítimo ligado a Israel é outro ponto de desgaste da reputação de Israel, destacaram os analistas, bem como os ataques envolvendo Israel e o Hezbollah na fronteira libanesa.
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