A entrevista aconteceu em um encontro para jornalistas da América Latina na capital ucraniana, Kiev. A mídia foi convidada pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia.
"Não entendo, não entendo. Diga: por acaso, o presidente Lula, por acaso não quer ter essa aliança? Por acaso o Brasil está mais alinhado com a Rússia do que com a Ucrânia? […]", indagou.
O encontro com os profissionais de imprensa aconteceu às vésperas da cúpula da suposta "fórmula da paz" proposta pela Ucrânia e organizada pela Suíça, nos dias 15 e 16 de junho.
Segundo Zelensky, entre os cerca de 80 líderes que já tinham confirmado presença, da América Latina, estariam os presidentes argentino, Javier Milei, e chileno, Gabriel Boric. No entanto, embora o evento tenha sido pensado para angariar apoio do Sul Global, a maioria dos participantes da cúpula é composta por países ocidentais. Tanto Brasil quanto África do Sul declinaram da sua participação.
"[…] Por que o Brasil e a China pensam primeiro nos russos e depois em nós? Como podem dar vantagem aos países que atentam contra outros e priorizar essa aliança […]?", questionou Zelensky.
O ucraniano afirmou que sabe que as nações têm suas próprias visões e disse estar disposto a ouvi-las.
No entanto, é justamente a falta de convite a Moscou ou o não desejo de sua presença no evento, mesmo que o conflito envolva dois atores, que parece incomodar Brasília e Pequim.
Em um documento de seis pontos assinado conjuntamente entre as chancelarias dos dois países, divulgado na semana passada, um dos pontos consiste justamente na elaboração de uma cúpula de Zelensky que seja realizada "[...] em um momento adequado que seja reconhecida tanto pela Rússia como pela Ucrânia, com participação igual de todas as partes [...]".
O jornal brasileiro destaca que, nos eventos de que a reportagem participou, a impressão era de que o Brasil era a "menina dos olhos" dos ucranianos.
Em entrevistas coletivas, diz a mídia, as respostas das autoridades às perguntas de veículos brasileiros eram consideravelmente mais extensas do que aquelas aos demais profissionais do grupo, que contava com Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador e Peru.
Itamaraty responde
Nesta sexta-feira (31), após a publicação da reportagem da Folha, o jornal O Globo entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil para saber seu posicionamento sobre as declarações de Zelensky.
Segundo a mídia, o Itamaraty negou que o governo brasileiro tenha tomado partido entre Moscou e Kiev, acrescentando que "não há e jamais houve engajamento" de Brasília no conflito.
A chancelaria brasileira destacou que o Brasil defende que as negociações de paz envolvam as duas partes.