No mês passado, estudantes da Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS, na sigla em inglês), localizada em Washington, ouviram Pistorius falar sobre o renascimento militar da Alemanha.
Ao expor a extensão do apoio alemão à Ucrânia, o ministro enumerou os tanques, veículos de combate de infantaria, obuseiros e sistemas de defesa aérea enviados a Kiev, afirmando que "é fácil se render ao pessimismo, dados os enormes desafios que enfrentamos", mas "vocês me veem pronto para lutar", acrescentou.
A mídia destaca que, há muito tempo, os norte-americanos não ouviam palavras como estas de um político alemão. Pelo contrário, nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, os líderes alemães evitaram a linguagem militarista e confiaram na proteção dos Estados Unidos e dos seus aliados na OTAN.
"Mas a retórica agressiva de Pistorius está criando tensões com Olaf Scholz e aponta para potenciais problemas futuros, à medida que o governo em apuros se aproxima das eleições no próximo ano", escreve o colunista.
Os cartazes de campanha para as eleições europeias deste mês apresentam Scholz com a palavra "Frieden", que significa "paz". Pistorius, por outro lado, argumenta que os cidadãos alemães precisam estar preparados para a possibilidade de guerra.
O ministro da Defesa alemão Boris Pistorius, à direita, sentado em um tanque Leopard 2 no batalhão de tanques da Bundeswehr, 1º de fevereiro de 2023
© AP Photo / Martin Meissner
Em 2022, quando a operação russa na Ucrânia começou, Scholz pregou o Zeitenwende – ou "ponto de viragem histórico" –, quando prometeu reanimar as Forças Armadas alemãs para combater a ameaça do Kremlin.
"O chanceler Scholz expôs a visão do Zeitenwende, mas agora é o ministro Pistorius quem deve executá-lo. Ele [Pistorius] vê as realidades geopolíticas. Dado que esta é a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha não está preparada", afirmou disse Sudha David-Wilp, diretora do escritório do Fundo Marshall Alemão em Berlim, ouvida pela mídia.
A distância entre o ministro e o chanceler tornou-se cada vez mais aparente nas últimas semanas através de dois desentendimentos públicos: em primeiro lugar, Scholz rejeitou o apelo do seu ministro para disposições orçamentais especiais, a fim de aumentar os gastos com a defesa.
Depois, o chanceler rejeitou a proposta de Pistorius de reintroduzir o recrutamento, abolido em 2011 pela ex-chanceler Angela Merkel.
Mais tarde, Pistorius desistiu desse plano e, em vez disso, está tentando tornar os militares mais atraentes para potenciais recrutas, "mas essa dupla humilhação não lhe caiu bem", escreve o colunista.
Delfs afirma que, durante uma reunião a portas fechadas no ministério no mês passado, Pistorius ameaçou renunciar, frustrado com as restrições orçamentais. Porém, voltou no dia seguinte.
"Ainda estou ansioso por este trabalho e vocês não vão se livrar de mim tão rapidamente", disse ele a repórteres quando questionado sobre relatos de sua explosão.
De acordo com uma pessoa familiarizada com seu estilo de trabalho, ouvida pela mídia, não é a primeira vez que o chefe da Defesa alemã deixa suas emoções tomarem conta quando está sob pressão, e Scholz está longe de ser a única pessoa que pode sentir-se desconfortável com os apelos de Pistorius à Alemanha para "se preparar para a guerra".
Em eventos públicos, o ministro é regularmente chamado pelos manifestantes de "traficante de guerra" e os social-democratas de centro-esquerda dizem que tanto ele como Scholz pertencem a uma "facção pacifista que se opõe fortemente às suas opiniões".
Mas as opiniões de Pistorius ressoam no público alemão, sublinha o colunista, afirmando que ele é regularmente classificado como o político mais popular da Alemanha, enquanto Scholz tem visto por vezes os piores índices de aprovação de qualquer líder desde a fundação da República Federal, há 75 anos.
Arne Delfs afirma que Pistorius é rápido em traçar paralelos entre a situação atual e o período do final da década de 1930, quando a Europa estava começando a deslizar para uma guerra continental.
Em tempos de guerra, disse Pistorius, as pessoas recorrem a um líder "em quem confiam e a quem seguem, mesmo que ele apresente o mundo em termos feios".
Após a sessão com estudantes em Washington, um aluno perguntou ao ministro da Defesa quão diferente seria a Alemanha se ele fosse chanceler em vez de Scholz.
Pistorius parou por um momento, levou a mão ao ouvido e disse, com um sorriso malicioso: "Não entendi a última parte da sua pergunta".