"Esses acordos são fundamentais para a agenda de desenvolvimento do Brasil, especialmente em áreas como infraestrutura, energia limpa e agricultura", afirmou à Sputnik Brasil Alexandre Coelho, doutor e professor de relações internacionais e analista sênior no Observa China, laboratório de pesquisas sobre a região asiática.
Um dos destaques, segundo o especialista, foi a assinatura de memorandos de entendimento entre o Ministério da Fazenda do Brasil e a Administração Estatal de Câmbio da China (SAFE, na sigla em inglês). Esse acordo visa promover a cooperação em investimentos sustentáveis e revisar a governança do Fundo de Cooperação Brasil-China.
Além disso, a Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM) e a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) firmaram um acordo para ampliar a assistência mútua e o intercâmbio de informações no mercado financeiro.
"A ampliação desses acordos técnicos é crucial para expandir o mercado de capitais brasileiro com base em outras moedas, como o yuan chinês", destacou Coelho.
Na área de empréstimos e cooperação financeira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) assinaram um acordo de empréstimo de US$ 800 milhões (R$ 4,2 bilhões) para projetos em infraestrutura, energia e economia verde.
Adicionalmente, o Banco de Exportação e Importação da China e o Banco do Brasil firmaram um empréstimo bilateral de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões). "Esses acordos permitirão ao Brasil avançar em setores estratégicos, promovendo a modernização e a sustentabilidade", comentou o especialista.
Os acordos comerciais também foram significativos, com a expansão das exportações de produtos brasileiros como sorgo, farinha e óleo de peixe, além da habilitação de 42 novas plantas frigoríficas para a exportação de carnes.
"Eles consolidam a segurança alimentar e abrem novos mercados para o setor agrícola brasileiro, essencial para a nossa economia", afirmou Coelho. Além disso, investimentos em infraestrutura e energia, como sistemas elétricos e energia renovável, foram reforçados.
A presença de Alckmin na China também reforça a estratégia geopolítica do Brasil na região Ásia-Pacífico, posicionando o país como ator-chave nas dinâmicas globais.
"Manter uma política de não alinhamento é crucial para o Brasil, permitindo que colhamos benefícios tanto das relações com a China quanto com os Estados Unidos e a Europa", explicou o professor.
Parcerias estratégicas
"A China é o principal parceiro comercial do Brasil há cerca de 15 anos, e a presença de Alckmin destaca a retomada das relações, que ficaram estremecidas entre 2019 e 2022", afirmou Rodolfo Marques, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor na Universidade da Amazônia (Unama).
Desde o início do terceiro governo Lula, em 2023, o Brasil tem trabalhado para restaurar e fortalecer seus laços com a China. A participação de Alckmin nessas negociações é, segundo o analista, um símbolo claro dessa retomada.
"Esse encontro é altamente simbólico, especialmente com a presença de Alckmin, que tem um papel significativo na área econômica", observou Marques. Ele ressaltou que a coordenação do evento pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil reforça a importância diplomática e comercial desse restabelecimento.
O encontro abordou parcerias em 11 setores, incluindo agricultura, finanças, trabalho e tecnologia, demonstrando um amplo escopo de cooperação.
"Estamos falando de um guarda-chuva de atividades importantes não só para as relações comerciais, mas também no campo diplomático", disse Marques.