O ministro diz ser necessária uma reforma da governança global, criticando a atual estrutura.
"Se não houvesse necessidade de reforma, não teríamos a situação que temos hoje na Ucrânia e em Gaza", afirma.
Ele destaca que a reforma deve se estender ao sistema financeiro internacional, o que inclui a paralisação da Organização Mundial do Comércio (OMC) como sinal claro dessa necessidade. "É muito importante que haja uma alternativa aos sistemas internacionais de pagamento."
Ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não participará de nenhuma reunião sobre o conflito ucraniano que não conte com a participação da Rússia.
Vieira também se pronunciou sobre as críticas ocidentais ao Brasil por não congelar bens russos. "A Rússia, sem dúvida nenhuma, é um país importante tradicionalmente, com comércio importante com o Brasil — nós temos cerca de US$ 11 bilhões [R$ 60,2 bilhões] ou US$ 12 bilhões [R$ 65,7 bilhões] de comércio."
"[A Rússia] é um importantíssimo fornecedor de fertilizantes para a indústria, para o agronegócio brasileiro, […] e vamos, dentro de três anos, comemorar também 200 anos de relações diplomáticas."
Segundo ele, é preciso uma abordagem equilibrada e multilateral. Ele diz que ações unilaterais são contraproducentes e que a diplomacia deve prevalecer. "Temos que envolver os dois lados, porque senão não vai haver de forma alguma uma negociação de paz, se só um lado está presente. Tem que ser os dois lados."
Sobre o conflito na Ucrânia, Vieira destacou a recusa do Brasil em enviar armas ou participar diretamente no conflito.
Ele afirmou que muitos países apoiam unilateralmente a Ucrânia, enviando recursos ou financiando a compra de material bélico, enquanto em outra frente, mencionou, Brasil e China promovem uma iniciativa conjunta para promover um espaço de negociação envolvendo todas as partes, rumo a um cessar-fogo para o conflito. O movimento vai na contramão da cúpula da Ucrânia na Suíça, da qual a Rússia não fez parte e que terminou no último final de semana sem uma proposta para a cessação das hostilidades.
Em relação à Palestina, Vieira relembra a resolução proposta pelo Brasil em outubro do ano passado, durante sua presidência no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), que foi vetada pelos Estados Unidos. "Foi lamentável. Depois demoramos muito tempo para termos uma resolução, que era muito mais fraca, muito menos impositiva do que aquela nossa […]", recordou o ministro.
Ele criticou a inação da comunidade internacional diante da crise humanitária e mencionou o papel de países como Emirados Árabes, Catar, Turquia e Egito nas negociações e nos esforços de cessar-fogo.
Os egípcios, em particular, foram essenciais na evacuação de mais de 100 brasileiros da Faixa de Gaza pela saída de Rafah, segundo ele.
Vieira descreve a situação em Gaza como um "massacre" e criticou a desproporcionalidade dos ataques a civis.
"É óbvio e evidente que o que está acontecendo [em Gaza] é um massacre. Uma desproporcionalidade; é um ataque a populações civis de forma indiscriminada", afirmou o ministro.
Respondendo a questionamentos sobre a continuidade das relações do Brasil com Israel no setor de defesa, Vieira explicou que a decisão de interromper acordos não cabe apenas ao Ministério das Relações Exteriores.
Para tanto, ele mencionou o uso de componentes israelenses por diversas indústrias brasileiras, incluindo a Embraer, destacando a complexidade de substituir esses fornecedores. "Isso, um pouco, escapa à área do MRE. São derivados de acordos de compra de equipamento militar, que é, portanto, com o Ministério da Defesa, e tem componentes importados de Israel, como de outros países. Portanto não é algo que se resolva instantaneamente."