Panorama internacional

Bolívia está disposta a abrir mão de gasodutos para transportar gás da Argentina ao Brasil

Em reunião de trabalho da qual participou a Sputnik, o presidente da Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Armin Dorgathen, garantiu que o país tem mais de 1.000 quilômetros de gasodutos prontos para transitar o gás de Vaca Muerta ao polo industrial de São Paulo.
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A chegada de Javier Milei à presidência da Argentina há pouco mais de meio ano marcou a paralisação das obras públicas. Mas, com atrasos, a empresa Energía Argentina Sociedad Anónima (ENARSA) continuou com seu plano de reverter o rumo do gasoduto norte, por onde chegou o gás boliviano nas últimas décadas, para transportar esse recurso do campo de Vaca Muerta até as províncias do norte da Argentina. Também está previsto começar a exportar para o Brasil.
Atenta a essa nova situação, a estatal YPFB disponibilizou seus gasodutos para que o gás argentino chegue à cidade de São Paulo, capital industrial brasileira, através da Bolívia. Em troca desse serviço, o governo de Luis Arce estima receber uma quantia a ser acordada com a Argentina.
O presidente da YPFB, Armin Dorgathen, realizou um almoço de trabalho com meios de comunicação internacionais para explicar detalhadamente as condições do seu Sistema Integrado de Transporte de Gás Natural, com capacidade para transportar gás argentino ao Brasil. Segundo o proprietário das jazidas, mais de 1.000 quilômetros de gasodutos estariam prontos no próximo mês de outubro para completar essa tarefa.
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Atualmente, a Bolívia exporta quatro milhões de metros cúbicos por dia para a Argentina. Esse contrato termina no final de junho e será prorrogado até outubro. Até lá estima-se que as obras de reversão em território argentino estarão concluídas.
Segundo Dorgathen, a YPFB vai vender ao Brasil o gás que não irá mais para a Argentina. Além disso, a estatal agregaria recursos extras com o aluguel do gasoduto.
"A partir de outubro desta gestão, a Bolívia poderá transportar três milhões de metros cúbicos por dia de gás argentino para o mercado brasileiro. Nesse momento não temos concorrência, porque temos um sistema consolidado, operacional e seguro que nos permitirá transportar gás natural de forma eficiente e competitiva da Argentina para os principais mercados do Brasil, como São Paulo", disse o presidente dos campos.

O novo panorama do gás

O gás de Vaca Muerta, na província de Neuquén, chegará às indústrias e residências de Córdoba, Tucumán, La Rioja, Catamarca, Santiago del Estero, Salta e Jujuy, no norte da Argentina. Com o lançamento do gasoduto, o governo Milei espera poupar US$ 1,96 bilhão (cerca de R$ 10,6 bilhões) por ano que é atualmente gasto na importação desta energia.
A ENARSA enviará nove milhões de metros cúbicos por dia para as províncias do norte. Outros três milhões iriam para o Brasil via Bolívia, segundo as previsões e, no médio prazo, o volume de exportação poderia aumentar para dez milhões de metros cúbicos por dia.
"Sua localização estratégica e um sistema de gasodutos que une três países (Argentina, Bolívia e Brasil) consolidam nosso Estado como a opção imediata, segura e eficiente para a integração energética regional dos mercados de gás natural", disse o presidente das jazidas à Sputnik.
O sistema de gasodutos que liga a Bolívia à Argentina já tem 13 anos, enquanto a ligação com o Brasil remonta ao final dos anos de 1990.
As obras de reversão, em termos gerais, consistem em girar os motores que transportam o gás da Bolívia para a Argentina, para que a partir de outubro façam o sentido inverso.
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Dorgathen indicou que a Bolívia produz 35 milhões de metros cúbicos de gás por dia, dos quais 12 milhões são destinados ao consumo interno e outros quatro milhões vão para a Argentina, de modo que os 19 milhões restantes vão para o Brasil.
O presidente da YPFB garantiu que realizam tarefas de exploração que visam a descoberta de novas jazidas, com as quais, "em 2026, teremos um aumento nas reservas de gás".

Negócio é negócio

Desde que Milei assumiu o cargo, seu governo teve conflitos com vários países da região, incluindo a Bolívia. A ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, disse à imprensa que o presidente Luis Arce abriga supostos soldados iranianos no Estado Plurinacional.
O governo boliviano exigiu esclarecimentos e um pedido de desculpas pelo caso da Argentina, o que nunca aconteceu.
Para Dorgathen, o comércio de gás na região passa por outra via, alheio aos altos e baixos políticos de cada país: "Há um contrato assinado entre a YPFB e a ENARSA, antes da chegada de Milei ao governo, uma relação comercial com benefícios mútuos."
"Temos interesse que a pequena célula de gás argentina possa utilizar a capacidade que temos em nossos gasodutos para gerar receitas adicionais. Não vemos obstáculo para que tenhamos essa situação resolvida em outubro", concluiu.
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