No início da tarde do dia 26 de junho, tropas comandadas pelo general Juan José Zúñiga ocuparam a Praça Murillo, onde ficam os prédios do governo boliviano, e chegaram a invadir o palácio presidencial. A tentativa de golpe foi denunciada pelo presidente Luis Arce, que pediu apoio da comunidade internacional e que a população fosse às ruas para proteger a democracia.
Apesar da recente tensão política, a agenda do governo Arce não ficou paralisada. Na última terça-feira (2), a Comissão de Política Internacional do Senado da Bolívia aprovou por unanimidade um projeto de lei que ratifica a adesão do país ao Mercosul, que agora segue para o plenário da câmara alta.
Em entrevista à Sputnik, o presidente boliviano comentou os últimos eventos em seu país e explicou quais são os interesses em pauta com o Brasil, falando ainda sobre alguns dos temas que pretende tratar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua próxima reunião na próxima semana.
"Vemos isso [tentativa de golpe], primeiro, com muita cautela porque não é por acaso, os interesses não desapareceram sobre os nossos recursos naturais, então temos que estar alertas, essa é a lição", ressaltou Arce ao comentar o episódio sui generis enfrentado pelo país. Ele destacou ainda que "temos que trabalhar muito, há muitas coisas que temos que continuar fazendo e vamos continuar fazendo pelo maior tempo possível enquanto estivermos na Casa Grande do Povo".
O presidente destacou o importante papel que seus aliados na América Latina tiveram, entre eles o Brasil, para que a democracia boliviana encontrasse apoio internacional caso a situação política se deteriorasse e acredita que "deveríamos nos unir ainda mais" para evitar episódios desta natureza.
"Com o presidente Lula temos uma agenda bastante extensa. Há muitas coisas que precisamos conversar. [Dentre os principais temas] estão os fertilizantes que temos que falar conjuntamente com o Brasil para fazer novas plantas. Falar de comércio entre Bolívia e Brasil, de investimentos, de cooperação na fronteira. A fronteira mais longa da Bolívia é com o Brasil, a mais extensa", destacou o líder boliviano.
A Bolívia, que já possui estreitas relações com o Brasil na exploração de hidrocarbonetos, vem pleiteando uma vaga no BRICS graças ao novo impulso de investimentos que o país tem experimentado também na exploração de suas reservas de lítio. Para além disso, Arce reforçou que o interesse nas relações com o Brasil, vão além das relações comerciais.
"Então temos que falar não só de comércio, investimentos etc., mas também de proteger adequadamente, de lutar contra o narcotráfico, de lutar contra as forças criminosas que operam em nossas fronteiras. Enfim, tudo isso é um conjunto de temas que vamos abordar nesta reunião."
O presidente Lula viaja a Santa Cruz de La Sierra, na semana que vem, para uma visita bilateral com o presidente Arce. Lula já disse que pretende prestar apoio ao homólogo boliviano durante a viagem, após a denúncia da tentativa de golpe de Estado no país, uma vez que o governo brasileiro não mudou sua posição de condenar "qualquer tentativa de golpe", segundo o Itamaraty.