Durante a visita à Bolívia, o presidente brasileiro participou do Fórum Empresarial, no qual se reuniram mais de 100 empresários brasileiros em Santa Cruz de la Sierra. No evento foi assinada uma dezena de acordos bilaterais entre os dois países, que vão desde a exploração de minerais até a equidade em assistência médica para os cidadãos de ambos os países.
Após o encontro, os dois líderes concordaram que começou "uma nova era" no vínculo entre seus países. E até inventaram um termo: "desgasificar" a relação, ou seja, incluir outros componentes à habitual venda de gás boliviano para os polos industriais do Brasil.
"O Brasil nunca assinaria um compromisso com um país em crise econômica. Desde que a Bolívia entrou no Mercosul [Mercado Comum do Sul], começou a desgasificação, a busca de novas alternativas produtivas desde a parte energética e agropecuária", disse à Sputnik o analista Martín Moreira sobre os acordos bilaterais assinados.
Ele sublinhou que a dezena de acordos estão destinados, em sua maioria, "a criar uma conjuntura melhor na [esfera] social, para que se beneficiem ambos os povos".
Desgasificação com gás
O analista observa que "falou-se sobre a possibilidade de aumentar os volumes de vendas de gás", e acrescentou que "também se avança na exploração conjunta e em investimentos por parte da Petrobras". Ambos os presidentes afirmaram que está prevista a construção de uma unidade de processamento de fertilizantes na fronteira comum.
"A Bolívia tem fertilizantes e o Brasil precisa de fertilizantes, que consome em 12 milhões de toneladas por ano. Haverá um forte investimento do Brasil, de modo que a Bolívia continue fabricando para satisfazer este mercado", comentou Moreira.
Além disso, o Brasil entrará na indústria do lítio, florescente na região do Salar de Uyuni, departamento de Potosí.
Também haverá avanço na exploração de empresas mineradoras brasileiras, "em busca de minerais metálicos e não metálicos. O leste da Bolívia está cheio de terras raras, então será fundamental o apoio para localizar esses tipos de jazidas", disse Moreira.
Setores agropecuário e de energia no centro do fortalecimento das relações
Com a chamada "desgasificação", ambos os países somam às suas negociações os setores agropecuários e de energia "para gerar soberania alimentar, para gerar condições de crescimento, para implementar um manejo correto das energias", ressaltou Moreira.
Neste ponto, é fundamental a transferência de tecnologias agropecuárias brasileiras: "Atualmente, o Brasil obtém 3,5 toneladas de alimentos por cada hectare que semeia, enquanto na Bolívia o rendimento é de duas a 2,5 toneladas. Então a transferência de técnicas de cultivo, de sementes, de biotecnologias, vai ser muito útil neste intercâmbio".
Ao mesmo tempo, o analista afirmou que a visita do presidente brasileiro oferece "bons sinais aos investidores internacionais, porque se está trabalhando para dar melhores condições aos investimentos privados para que venham trabalhar na Bolívia".
O encontro entre Lula e Arce ocorreu em um contexto especial na política latino-americana. Enquanto o presidente brasileiro estava na cúpula do Mercosul e visitava Santa Cruz de la Sierra, em seu país se reuniam o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) e o líder argentino Javier Milei.