"Embora minha intenção fosse buscar a reeleição, acredito que é melhor para o meu partido e para o país que eu me retire da disputa e me dedique ao meu trabalho como presidente pelo resto do meu mandato", relatou o presidente em mensagem compartilhada por ele através de suas redes sociais.
O anúncio, no entanto, ocorre três meses antes da realização das eleições presidenciais nos Estados Unidos contra um Donald Trump fortalecido, após ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato.
Em sua carta, Biden expressou o seu apoio a Kamala Harris — que confirmou suas intenções em concorrer em uma breve mensagem em seu perfil no X — para assumir a nomeação democrata. Figuras relevantes do partido como Bill e Hillary Clinton já manifestaram o seu apoio a atual vice-presidente dos EUA.
Decisão tardia e desesperada
Segundo o mestre em estudos México-Estados Unidos pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Juan Daniel Garay Saldaña, houve acordo entre os membros do Partido Democrata sobre o que mudar na candidatura.
"O Partido Democrata está extremamente preocupado com a possibilidade do ex-presidente [Donald] Trump regressar ao cargo e, claro, vendo a evidente fraqueza de seu candidato [...] é um problema de senilidade muito acentuada, problemas de saúde já muito avançados, típicos da sua idade; se compararmos o Biden de hoje com o de há quatro anos, há uma diferença muito grande", considerou o especialista em entrevista à Sputnik.
"O que estamos vendo é uma ação desesperada por parte do Partido Democrata", garantiu Garay Saldaña.
O doutor José María Ramos, pesquisador do Colégio da Fronteira Norte, destacou, no mesmo sentido, que essa pressão mostrava a falta de unidade dentro do partido em torno da candidatura de Biden.
Para o internacionalista da UNAM, Carlos Manuel López Alvarado, a retirada de Biden da corrida presidencial foi uma decisão "completamente errônea e tardia".
"Deveria ter sido retirado desde o início de todo esse processo para a campanha presidencial dos Estados Unidos, é um momento tardio [agora], porém, os democratas estão pensando — do meu ponto de vista — não mais em vencer a campanha presidencial, mas em não deixar o Partido Republicano manter as duas câmaras", disse o especialista à Sputnik.
Kamala tem chance de vencer?
Embora Biden tenha manifestado o seu apoio a uma possível candidatura de Harris, o primeiro desafio que a vice-presidente enfrentará é conseguir a ratificação do partido na convenção que será realizada em Chicago de 19 a 22 de agosto.
Para o professor Garay Saldaña, Harris é a "candidata ideal" dada a decisão de Biden de se retirar da corrida presidencial. Por outro lado, garantiu que a decisão do atual presidente norte-americano ocorreu justamente quando o partido está "no limite" de poder reverter os resultados eleitorais.
"Até o próprio presidente [Joe] Biden deve se distanciar das críticas que têm sido feitas ao seu governo, especialmente na parte econômica, essa parte que tanto preocupa os norte-americanos nas questões de segurança, na questão da liderança global, que é o que o próprio presidente considera ter perdido força e então de certa forma também tem que se distanciar dessas críticas e dos pontos fracos do seu governo", disse o professor.
Ramos destacou ainda que Harris deve conseguir se aproximar dos eleitores indecisos e jovens e apelar aos diferentes grupos sociais que tradicionalmente estão agrupados no Partido Democrata embora a maioria dos jovens discorde da política levada a cabo pelo atual governo no que diz respeito à política externa, como o conflito em Gaza.
O especialista afirmou ainda que a atual vice-presidente dos EUA vai enfrentar o desafio de conseguir uma boa captação de recursos, lembrando que em 2020 Harris foi forçada a abandonar o processo eleitoral democrata devido aos poucos recursos arrecadados.
López Alvarado explicou que "seja Kamala Harris, ou o mencionado nome de Michelle Obama; seja quem for, a realidade é que Trump já ganhou a presidência, [...] a realidade é que [esses nomes] já não têm o poder de competir contra Donald Trump que tem uma campanha sólida; depois do discurso que proferiu na Convenção Republicana, há tantos anos que não se via um marketing político tão magnífico, bem planejado e bem executado como o de Donald Trump".
Para o internacionalista, o objetivo do Partido Democrata agora deve ser evitar que os republicanos tomem o controle de ambas as câmaras do Poder Legislativo, posicionando uma candidatura que "reduza os grandes danos da derrota presidencial".