"Os países do BRICS têm feito a diferença no que tange ao genocídio promovido pelo governo Netanyahu. Brasil e África do Sul possuem uma postura mais incisiva na crítica aos crimes contra a humanidade e a China. Por outro lado, tem buscado juntar todos os atores direta e indiretamente envolvidos no conflito para uma solução definitiva. Creio que podem fazer a diferença frente a um apoio incondicional à Israel por parte de alguns países ocidentais, em especial, dos Estados Unidos", acrescenta.
Quais as principais características do BRICS?
"São países com enorme influência política e econômica na atualidade, com suas diversas potências militares, especialmente nucleares. Também detêm um percentual do PIB mundial bastante considerável, e os territórios dos países signatários possuem as maiores reservas de recursos naturais do planeta. Esses e outros elementos transformam o BRICS em um contraponto à ordem internacional imposta pelo mundo ocidental", pontua.
O que quer dizer um mundo multipolar?
"Por exemplo, a mediação de um conflito na Ucrânia, seria muito difícil de imaginar que se organizaria uma reunião em Kiev em que a Rússia não fosse convidada. Mas, por outro lado, a gente observa que Estados Unidos e União Europeia são partes da questão, apoiam a Ucrânia e não teriam uma visão neutra para buscar um tipo de consenso. Outro tema interessante diz respeito à própria questão do Irã, que fez um acordo com os EUA em 2015 e foi abandonado pelo ex-presidente Donald Trump. E o Irã perde a interlocução com os Estados Unidos, mas acaba encontrando interlocução com a China justamente para mediar a aproximação política entre os dois principais países do Oriente Médio, que são o Irã e a Arábia Saudita", resume.
"A própria questão da África do Sul [sobre a guerra de Israel contra a Faixa de Gaza], uma atuação decisiva em defesa dos direitos humanos e contra o genocídio, que levou à condenação de líderes israelenses no Tribunal Penal Internacional. Uma questão importante para pensarmos na diplomacia diz respeito a outros poderes estruturais, que não apenas a questão política, mas também a questão produtiva, a questão tecnológica, a questão financeira. Se nós pensarmos no mundo que foi criado em 1945, praticamente só existia uma potência no mundo, que eram os Estados Unidos. Os países da Ásia e da África não tiveram quase representação nenhuma na criação da ONU, porque eram colônias de países europeus. Nesses 80 anos que nos separam desde o fim da Segunda Guerra Mundial, é importante notar que o peso econômico dos países do Sul Global aumentou de maneira significativa", finaliza.