Ciência e sociedade

Pesquisa com tecnologia digital revela detalhes ocultos em livro do século XV

Segredos de um manuscrito do século XV foi descoberto graças à tecnologia até então inédita no Brasil. A obra "Livro de horas dito de D. Fernando (50,1,1)" está entre os acervos mais raros da Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
Sputnik
A geração da imagem científica multiespectral permite a leitura de superfícies apagadas em objetos de patrimônio cultural e pertence à Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), primeira instituição no país a contar com um laboratório para o emprego da técnica.
O experimento foi feito por Ismara de Carvalho, conservadora, restauradora e servidora da Biblioteca Nacional; com o auxílio de Alexandre Leão, professor do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG; e Alexandre Costa, conservador, restaurador e aluno de mestrado.

"Utilizamos uma câmera digital que foi modificada para captar espectros de luz que não conseguimos enxergar, como o infravermelho e o ultravioleta", explicou Alexandre Leão. "Com o infravermelho, podemos captar imagens daquilo que está abaixo da camada de pintura, como esboços feitos com grafite ou carvão. Com o ultravioleta, é possível observar características na superfície acima da pintura, como uma camada de verniz ou a presença de materiais inorgânicos e orgânicos, como fungos."

A análise foi realizada na Biblioteca Nacional, com o equipamento trazido de Belo Horizonte. Graças à tecnologia, trechos raspados puderam ser identificados, relatou Carvalho:

"A técnica da imagem científica multiespectral nos ajuda a revelar informações sobre o percurso do 'Livro de horas'. Hoje, temos provas de que o livro esteve na Inglaterra. Em 1538, o rei Henrique VIII baixou um decreto que extinguia o culto a São Tomás Becket e proibia qualquer menção ao Papa. Isso explica os oito apagamentos encontrados no 'Livro de horas' e a retirada de dois fólios", explicou a pesquisadora.

Os resultados principais foram a identificação da maioria dos pigmentos aplicados no corpo original do manuscrito e nos elementos acrescentados posteriormente, levando à confirmação da data do corpo original, cujos pigmentos são diferentes daqueles empregados nos acréscimos.
A técnica usa, ainda, um sistema de iluminação com diferentes faixas de comprimento de onda (cores) para captar a imagem do objeto a partir da reflexão de cada cor separadamente.
Em seguida, as fotos são inseridas em um software capaz de sobrepor as diferentes imagens captadas, fazendo com que informações ocultas aos olhos humanos fiquem evidentes. O professor ressaltou que a técnica não é invasiva nem danifica as obras analisadas.
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O livro é tema da tese de doutorado de Carvalho pela UFMG, e aborda o percurso histórico na caracterização material e na atribuição de valores para a preservação do manuscrito.
A missão acadêmica foi parcialmente financiada com recursos do Programa de Excelência Acadêmica (Proex) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) (Proex).
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