Panorama internacional

Suíça 'está sendo espremida' na guerra comercial entre China e EUA, analisa mídia americana

Dez anos após o acordo de livre comércio celebrado entre Pequim e Berna, o tratado está prestes a ser atualizado, mas a euforia se foi, refletindo o ambiente geopolítico alterado definido pela competição Estados Unidos-China, analisa a Bloomberg.
Sputnik
Em 2013, dezenas de representantes empresariais suíços viajaram para Pequim a fim de participar da assinatura do acordo de livre comércio entre a Suíça e a China, brindando o sucesso com champanhe.
Implementado em 2014, o acordo foi saudado na época como um acordo histórico que "reformula o cenário do comércio internacional" e pode até contribuir para "uma reindustrialização da Suíça", relembra a mídia. Alguns especialistas agora questionam se as negociações para a atualização sequer produzirão algum resultado.

"A preocupação com o destino do acordo comercial é um sinal de como a Suíça está sendo espremida entre potências globais rivais, lançando uma sombra sobre o seu excepcionalismo tradicional em esferas que vão da neutralidade aos seus esforços econômicos individuais. Com os Estados Unidos se movendo para dificultar o acesso da China à tecnologia avançada e a União Europeia [UE] se alinhando mais de perto com Washington, as empresas suíças em particular correm o risco de ficar presas no meio", analisa a mídia.

A multinacional ABB, sediada em Zurique, enfrentou o escrutínio dos EUA no início deste ano, ao que um comitê do Congresso citou como potenciais "riscos de segurança cibernética, ameaças de inteligência estrangeira e vulnerabilidades da cadeia de suprimentos", relacionados ao seu envolvimento com companhias estatais chinesas no fornecimento de guindastes para portos marítimos norte-americanos.
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Agora, a renomada indústria farmacêutica da Suíça, com seu setor de biotecnologia associado, está observando nervosamente a nova legislação proposta pelos Estados Unidos, que pode limitar sua capacidade de colaborar com a China.

"Há um sentimento desconfortável. Tensões geopolíticas são particularmente sensíveis para empresas que fabricam produtos de alta tecnologia. Cinco a dez anos atrás, tais preocupações ainda não eram um problema", disse Jean-Philippe Kohl, vice-diretor da Swissmem, a associação para indústrias de engenharia mecânica e elétrica do país.

O governo suíço é cuidadoso em manter boas relações com os chineses, mas é cada vez mais confrontado por resistência doméstica, com críticas alimentadas por relatos de suposta interferência chinesa.

"Que os EUA um dia digam que temos que parar essa transferência de tecnologia; é um medo primordial de muitas empresas", afirmou Kohl, acrescentando que seria "um desastre" se tivessem que escolher entre os Estados Unidos ou a China. "Retirar-se da China seria impossível e equivaleria a uma 'amputação parcial' de sua empresa", disse ele.

Embora os EUA continuem a ser o mercado de exportação de país único mais importante para as companhias farmacêuticas suíças, as empresas chinesas se tornaram essenciais em toda a cadeia de suprimentos, da pesquisa pré-clínica ao licenciamento — e essa interdependência é um sinal de alerta para alguns legisladores dos Estados Unidos.
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Novas realidades geopolíticas estão mudando a perspectiva para esse tipo de engajamento, de acordo com Alain Graf, consultor sênior e especialista em China na Switzerland Global Enterprise, ouvido pela mídia.

"A principal preocupação para empresas em certos setores sensíveis é se seus negócios com clientes chineses e, especialmente, empresas estatais podem afetar seus negócios nos EUA. Como as regras não são claras e estão mudando, é uma grande dor de cabeça", afirmou Graf.

Quando foi assinado, muitos viam o acordo de livre comércio Suíça-China como o precursor de um acordo comercial entre a China e a UE, "mas então as coisas mudaram e agora a Suíça está seguindo o seu próprio caminho", disse Peter Bachmann, diretor-executivo da Câmara de Comércio Suíço-Chinesa (SCCC, na sigla em inglês) de 2014 a 2023.
A realidade agora é que Berna precisa do acordo de livre comércio mais do que Pequim, disse Bachmann: "A Suíça frequentemente se concentrou na adaptação e na negociação, o que funcionou bem até o momento, mas agora outros valores estão se tornando importantes", complementou.
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