Os cientistas produziram uma pequena partícula que funciona como guia, levando instruções para o corpo reconhecer e atacar as células cancerígenas.
Um dos autores do estudo, Walison Nunes, explicou que a partícula é como um mapa que mostra exatamente onde está o tumor, a fim de trazer mais assertividade ao tratamento.
"Colocamos, dentro da nanopartícula, um RNA [ácido nucleico que se relaciona com a síntese de proteínas], mensageiro que funciona como 'script', com todas as informações que a célula do corpo necessita para produzir uma proteína. No caso do nosso trabalho, essa proteína é do sistema imunológico, sendo capaz de induzir a morte programada das células tumorais. Ou seja, induzimos o organismo a produzir uma proteína que mata as células cancerígenas", detalhou ele.
A nanopartícula desenvolvida no laboratório da UFMG é baseada na mesma tecnologia empregada pela Pfizer e pela Moderna nas vacinas contra a COVID-19.
O estudo foi publicado em um artigo na revista científica International Journal of Nanomedicine no primeiro semestre deste ano. Segundo Nunes, essa tecnologia pode ser considerada promissora, porque, no caso dos tratamentos tradicionais contra o câncer, a maior dificuldade é fazer com que o medicamento entre, de fato, no tumor.
"As células tumorais formam uma espécie de 'microambiente tumoral hostil', que impede que as terapias e as células imunológicas do organismo consigam combater o tumor de forma efetiva", afirmou.
O novo tratamento criou uma forma de modificar o ambiente ao redor do tumor, tornando-o mais fácil de ser acessado.
De acordo com o pesquisador, a tecnologia "abre caminhos nos vasos sanguíneos" para as nanopartículas e os linfócitos, células de defesa do corpo, chegarem até o tumor e combatê-lo com mais eficiência.
A equipe responsável pela terapia faz testes em pequenos animais por meio de modelo humanizado, ou seja, transplanta as células cancerosas e as células saudáveis de humanos em camundongos.
O tratamento está sendo testado para metástase, a fim de aprimorar o direcionamento das nanopartículas às células que saíram do tumor principal e se espalharam para outros órgãos.
Segundo estimativas do governo federal, mais de 45 mil brasileiros serão acometidos pela doença até 2025, o que representa um risco estimado de 21 casos por 100 mil habitantes.
Os principais fatores de risco para esse tipo de câncer estão associados a sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco, além de baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras.
Outros fatores de risco estão associados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica e histórico pessoal ou familiar de adenoma ou câncer colorretal.
Os cânceres de cólon e reto apresentam alto potencial para prevenção primária, com o estímulo a hábitos de vida e alimentação saudáveis, e secundária, baseada na realização de exames frequentes para a detecção precoce.
De acordo com o Ministério da Saúde, a maior parte dos tumores de intestino é tratada com quimioterapia e ressecção cirúrgica, esta última quando o paciente precisa usar bolsa para coletar as fezes (bolsa de colostomia), o que impacta a qualidade de vida.