A natureza global e a difusão generalizada do problema das alterações climáticas se deve principalmente ao seu forte impacto na economia, destaca o membro da Academia Russa de Ciências. É paradoxal, mas o próprio clima e a manutenção do aumento da temperatura global devem ser atribuídos a fatores secundários, acredita.
"A política climática se tornou um problema global principalmente devido ao seu forte impacto na economia", destaca o especialista.
Inicialmente, foram os países com grandes economias que começaram a promover a agenda ambiental e a eliminação gradual da produção de energia com elevado impacto ambiental, lembra Shirov, que também é especialista em análises e previsões macroeconômicas.
"Um número significativo de Estados com economias desenvolvidas atingiu certos pontos de saturação nas necessidades tanto de infraestruturas como de consumo das suas populações", explica.
No entanto, necessitam de rendimentos adicionais para avançar e manter um nível social elevado, salienta. A agenda ambiental, por sua vez, estimula o surgimento de novas indústrias – desenvolvimento de energias renováveis ou modernização da energia tradicional – na economia que criam procura adicional e impulsionam o crescimento econômico. Essas mudanças na estrutura de produção e nos preços criam a renda necessária, explica.
"É a agenda climática que está a impulsionar essas mudanças estruturais. Como consequência, estamos a ver uma maior atenção a ela por parte dos países que possuem as tecnologias relevantes", indica.
Aos poucos, países não só com economias grandes e desenvolvidas, mas também emergentes, como a China e a Rússia, vão se integrando nesse processo, defende o analista.
Abordando a questão das novas indústrias que estimulam a economia nacional, o especialista menciona a estratégia russa de desenvolvimento de baixo carbono. O plano, que inclui a modernização das centrais de carvão e gás, o aumento da quota de energia nuclear e a reorganização da gestão de resíduos, cria procura adicional e gera novos fundos.
Estratégia elaborada
Para se beneficiar da política ambiental global, um país tem de desenvolver uma estratégia que tenha em conta as características individuais da economia, energia, produção, entre outras, bem como as projeções relativas às alterações climáticas, sublinha Shirov.
"O processo de previsão da descarbonização é uma tarefa não só de previsão econômica, mas também especificamente científica e tecnológica", salienta.
Por outro lado, medidas impensadas e impulsivas para reduzir as emissões de gases com efeito estufa podem afetar tanto a economia do país como a sua população, alerta o especialista.
"Podem ser introduzidas massivamente centrais solares ou eólicas, que, do ponto de vista da redução de uma tonelada de emissões de dióxido de carbono, são muito mais caras do que a modernização da energia convencional", detalha.
A recusa total em seguir os objetivos de descarbonização continuará naturalmente a prejudicar o ambiente e atingirá também a economia nacional, alerta o especialista. As restrições econômicas externas impostas, juntamente com uma modernização mais lenta, levarão a baixas taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB), argumenta.
"A agenda climática neste contexto é única. Por um lado, ajuda a reduzir o impacto negativo no clima e, por outro, vários países conseguem resolver simultaneamente problemas econômicos dessa forma", resume Shirov.