Com o tema "Diversidade da civilização e a escolha do caminho para realizar os direitos humanos", o evento contou com a participação de mais de 120 pessoas entre altos funcionários, especialistas, acadêmicos, representantes de organizações sociais relevantes, think tanks e mídia.
Durante o encontro, os presentes ressaltaram os direitos humanos como ferramenta para o
mundo multilateral, reforçando os cuidados com a segurança, a saúde, a ciência e a empregabilidade, descolando a ideia dos direitos humanos de uma visão unipolar.
Enquanto discursava, Victoria Donda, membro do Parlamento do Mercosul, chamou a atenção para os riscos de uma perspectiva unilateral de direitos humanos, frisando a importância de aprofundar o debate sobre o tema.
Segundo ela,
direitos humanos, liberdade e democracia têm sido usados como conceitos vazios para a intervenção política em alguns países.
À Sputnik Brasil, Donda reafirmou que é preciso ressignificar conceitos como direitos humanos e democracia, ferramentas que os Estados utilizam para garantir os direitos de seus cidadãos.
Se após os destroços deixados pela Segunda Guerra Mundial a Organização das Nações Unidas (ONU) pode ter sido utilizada como ferramenta para alavancar um entendimento unilateral, 80 anos depois, países do Sul Global contestam esse lugar.
"Esses países que reconquistaram a sua independência reconquistaram seus protagonismos e trazem temáticas importantes como o desenvolvimento, a cooperação, a justiça internacional e o multilateralismo", disse, em entrevista à Sputnik Brasil, Marcos Cordeiro Pires, professor de economia política internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Um exemplo de país que, a partir do desenvolvimento e da estruturação de suas bases políticas e econômicas, amplia sua voz nos debates em contexto global, é a China. Pires destaca que ter o
gigante asiático conduzindo conversas relacionadas aos direitos humanos é importante, pois trata-se de um país
"que não tem suas pretensões hegemônicas e também não tem um discurso universalista".
Juan Carlos Moraga Duque, presidente da ONG
Human Rights Without Frontiers (Direitos Humanos Sem Fronteiras, em tradução livre), ressaltou em seu discurso o
papel exercido pela China quando o assunto é direitos humanos, ao passo que esse lugar não é reconhecido, sobretudo pelo Ocidente, a partir de repetidos lugares-comuns e sem conteúdo acerca do país.
Conforme destaca Moraga Duque, a Constituição chinesa, aprovada em 1982, define os direitos humanos como parte importante do Estado de Direito e governança social.
Na mesma linha, Ronnie Lins, diretor do Center China & Brazil: Research and Business (CCB), afirma em declaração à Sputnik Brasil que o conceito de direitos humanos é preponderante para os chineses e está diretamente relacionado à soberania nacional.
"Obviamente, a defesa das pessoas, a defesa do país, dos interesses, isso tudo faz parte da manutenção dos direitos humanos dos chineses", afirma.
O evento, portanto, permite que a temática de direitos humanos seja colocada no centro do diálogo Sul-Sul, mais especificamente entre a China,
notadamente uma potência mundial, e países da América Latina.
O encontro, em suma, oportuniza que as nações latino-americanas obtenham melhor conhecimento a respeito de tradições e valores que também fundamentam os direitos humanos no mundo oriental, além daquelas que comumente estão acostumadas a lidar.
"[O evento] permite a troca de experiências, de conhecer quais são as abordagens e os valores e identificar de maneira prioritária onde é que estão as concepções de direitos humanos que possam ser consideradas universais, independentemente das culturas, independentemente das diferenças que possam existir entre os países", destaca à Sputnik Paulo Abrão, ex-secretário-executivo do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH) do Mercosul, ex-secretário nacional de Justiça, ex-diretor do Instituto de Políticas Públicas e Direitos Humanos do Mercosul e presidente da Comissão de Anistia do Brasil.
Abrão ainda ressalta as condições atuais para realizar um debate dessa proporção que permita uma discussão
crítica da construção histórica e force a comunidade internacional a reconhecer a complexidade da diversidade humana para que, ciente dos desafios, rume para a construção de uma sociedade mais pacífica, "tendo os
direitos humanos como a gramática ou o eixo estruturante dessas relações sociais".