Responsável por concentrar quase 76% das áreas atingidas pelas queimadas na América do Sul nas últimas 24 horas, o Brasil enfrenta a pior seca já registrada na história e muitas dificuldades para combater a situação.
A situação do país é tão grave que São Paulo inclusive chegou a ser considerada, no início da semana, a cidade com a pior qualidade do ar em todo o mundo. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino declarou nesta terça-feira (10) que há uma "pandemia de incêndios florestais" e, diante da gravidade da situação, cobrou medidas mais efetivas do governo federal, principalmente para a Amazônia e o Pantanal.
Entre as medidas estão a convocação de mais bombeiros militares para atuarem no efetivo da Força Nacional para o combate às chamas nas regiões em até cinco dias, com profissionais de estados que não foram atingidos pelas queimadas. Além disso, Dino determinou a ampliação do quadro da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar os focos de incêndio nas rodovias sob responsabilidade do órgão.
"Não podemos normalizar o absurdo. Temos que manter o estranhamento com o fato de que 60% do território nacional está sentindo os efeitos dos incêndios florestais e das queimadas. Isso é um absurdo, isso é inaceitável. Temos que reconhecer que estamos vivenciando uma autêntica pandemia de incêndios florestais", justificou.
Além disso, foi autorizada pelo STF a contratação e requisição de aeronaves da iniciativa privada para os trabalhos de combate, além da determinação que as polícias federal e civil realizem um mutirão para investigar incêndios provocados pela ação humana nas áreas mais atingidas. "Há ação humana. Por isso, o Supremo vem com essa ideia de diálogo, mas, ao mesmo tempo, de coerção, investigação e punição dessa ação humana", acrescentou.
Nível do rio Paraguai chega a 28 centímetros
Dados do Serviço Geológico do Brasil também revelaram que o nível do rio Paraguai no Mato Grosso atingiu o menor nível da história na região de Barra do Bugres, a quase 170 km de Cuiabá: apenas 28 centímetros, quando a média para o período é acima de 1,4 metro. O número supera inclusive as secas de 1967 e 2023. Das 21 réguas que monitoram um dos principais cursos d'água do país, 18 estão abaixo do nível esperado para o período.
Em apenas dez dias, o Pantanal já superou a marca de incêndios registrados em todo o mês de setembro do ano passado. Ao todo foram 736 focos de incêndio contra 373 em todo o mês de 2023. Desde o início do ano, já foram mais de 3 milhões de hectares destruídos pelo fogo no bioma.
A situação também é preocupante no Norte do país: pelo terceiro dia seguido, o nível do rio Madeira, no Acre, bateu novos recordes de mínimas históricas, quando chegou a 67 centímetros em Porto Velho. É o menor índice desde o início das medições, em 1967.
No Rio de Janeiro, o INPE também revelou que 2024 foi o ano com o maior número de incêndios florestais desde 2017: já foram registrados 760 focos em todo o estado. Só em setembro foram 355 ocorrências, o pior índice desde 2010.