O exemplar, o mais bem conservado dos 11 remanescentes, é o que se encontra em melhor estado de conservação e será o único no Brasil. Os outro dez estão espalhados entre França, Itália, Bélgica, Alemanha, Suíça e Dinamarca. Neste último há cinco mantos sob supervisão dos museus.
O artefato não é o único de grande exposição pública a voltar para terras brasileiras. No ano passado, o fóssil Ubirajara jubatus foi símbolo da luta contra a paleopirataria que ocorre em solo nacional.
Roubado do Brasil em 1995, o fóssil ficou em exposição no Museu Estadual de História Natural da cidade de Karlsruhe, na Alemanha, até 2023, quando a entidade finalmente aceitou devolver o material contrabandeado.
Hoje, o Ubirajara jubatus, primeiro dinossauro não aviário a ser descoberto nas Américas, está em exposição no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, administrado pela Universidade Regional do Cariri (URCA), no Ceará.
Esses, contudo, não são os únicos artefatos roubados do Brasil. Em 2023, o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus (ICOM, na sigla em inglês), mais conhecido como ICOM Brasil, criou uma "lista vermelha" específica para o país, explicando quais são os bens culturais brasileiros que possuem maior risco de tráfico e aconselhando museus, casas de leilões e comerciantes de artes a não adquirir objetos do tipo.
Entre os gêneros de maior risco estão livros, litografias, documentos, manuscritos, fotografias, mapas, periódicos, artefatos indígenas, fósseis e peças de arte sacra e religiosa.
"O Brasil ocupa o 26º lugar na lista dos países com maior número de objetos culturais roubados e tem uma taxa de recuperação extremamente baixa", detalhou Renata Motta, presidente do ICOM Brasil durante o lançamento da lista vermelha.
Contrabando: as 5 maiores perdas brasileiras
Há milhares de peças brasileiras, desde fósseis a artefatos indígenas ou artes sacras cristãs e africanas espalhadas por museus ao redor do mundo. Nem mesmo as autoridades brasileiras têm ideia de quantas são.
Só um estudo feito pelo governo da França encontrou cerca de 3 mil artefatos amazônicos pelos museus do país. Confira abaixo cinco grandes perdas históricas do Brasil para o contrabando de artefatos.
Tartaruga Santanachelys gaffneyi
Há mais de dez anos o governo brasileiro luta para repatriar o fóssil da tartaruga mais antiga do mundo, a Santanachelys gaffneyi. Hoje, o exemplar de 20 cm está na Universidade de Teikyo Heisei, no Japão.
O fóssil foi roubado da região do Araripe, no Ceará, local rico em fósseis bem preservados e primeiro parque geológico das Américas reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês).
Máscara de etnia Tapirapé
A máscara de etnia Tapirapé, do Mato Grosso, é uma grande obra de arte formada por penas de araras, conchas e fibras representando espíritos. Conhecida também como "cara grande", seu uso é feito tradicionalmente pelos homens dos povoados.
De grande beleza, muitas dessas máscaras podem ser encontradas à venda em sites de leilão ou museus estrangeiros, enquanto no Brasil o artefato é pouco conhecido.
Ossadas de Peter Lund
O dinamarquês Peter Lund, considerado o pai da paleontologia e arqueologia no Brasil, foi responsável pela descoberta de mais de 10 mil fósseis e ossadas em Minas Gerais. Esses milhares de artefatos, no entanto, foram enviados para a Dinamarca e até hoje estão por lá.
Em 2012, o Museu de História Natural da Dinamarca cedeu 82 fósseis para exibição temporária do Museu Peter Lund, localizado no Brasil. Inicialmente, o prazo de empréstimo era de três anos, mas até hoje não foram devolvidos devido a uma disputa entre as duas instituições.
Urnas marajoara
A cultura marajoara, da ilha de Marajó, no Pará, é conhecida por seus belos trabalhos cerâmicos e, em especial, suas urnas funerárias em formatos de mulheres grávidas. Muitas dessas urnas, no entanto, estão nas mãos de museus na Europa e nos Estados Unidos.
Criadas muito antes da chegada dos europeus, uma vez que a ilha foi abandonada por volta do ano 1300, a maior parte dos objetos marajoaras tem iconografias femininas.
Primeira edição de Marília de Dirceu
A primeira edição da obra fundamental do movimento arcadista, "Marília de Dirceu", do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744—1810), está desaparecida dos acervos da Biblioteca Nacional desde 1884, quando o frei Camilo de Montserrat (1818—1870) reportou o sumiço.
Suspeita-se que este pode ser o primeiro caso de desaparecimento de uma obra de arte reportado em solo brasileiro, evidenciando que primeiros exemplares literários são alvo de ladrões há séculos.