Organizada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, a Cúpula do Futuro precedeu a 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), que acontece a partir de terça-feira (24). Durante o fórum, os países firmaram o Pacto para o Futuro, documento de 56 páginas com compromissos a serem seguidos em nome da reforma da governança global.
Participaram do evento líderes mundiais de todos os cantos do planeta. No entanto os presidentes e primeiros-ministros de Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia não compareceram.
Os principais pontos do texto discorrem sobre o fim do uso de combustíveis fósseis, a retomada do desarmamento nuclear, a interoperabilidade nos meios digitais, a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e o alívio de dívidas insustentáveis em nome da priorização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também conhecidos como Agenda 2030.
Segundo Guterres, "não podemos criar um futuro adequado para nossos netos com um sistema construído por nossos avós".
Discursando na abertura do evento, Lula tocou nos pontos usuais de sua agenda internacional, temas que também colocou no centro de sua presidência do G20 deste ano, como o combate à fome, a reforma da governança global a partir de instituições multilaterais e o desenvolvimento sustentável.
Acompanharam o presidente em sua viagem a Nova York a primeira-dama, Janja Lula da Silva; o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; e o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.
Contudo, Lula aproveitou a ocasião para criticar os países pela sua lentidão em alcançar as metas estipuladas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28).
"No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo […]. Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e o financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro."
Segundo a tradição da AGNU, o presidente brasileiro agora é esperado para ser o primeiro a discursar. É previsto que amanhã (24) Lula suba o tom, chamando a atenção para as crises climáticas que o Brasil enfrentou neste ano como evidência da rapidez com a qual as mudanças climáticas se concretizaram.
Lula visa promover COP30
À Sputnik Brasil, o professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Leonardo Trevisan classifica a fala de Lula como um "puxão de orelha coletivo" em toda a liderança internacional, "até para o próprio Brasil".
"O presidente está de olho posto na COP30, que ele pretende que tenha efetivamente uma agenda realizável […] [para], de alguma forma, romper a barreira dos 17%."
Nesse sentido, Amanda Harumy, professora de relações internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA) e secretária-executiva da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (OCLAE), afirma que a crítica de Lula é correta e "feita no lugar certo", uma vez que "novas harmonizações do sistema internacional terão que ser realizadas em um espaço de cooperação".
Expansão do Conselho de Segurança da ONU
Um desses espaços de cooperação é justamente o Conselho de Segurança da ONU, e a ausência dos chefes de Estado e de governo é indicativa da necessidade de atualizar sua formação para o século XXI.
Esse é, inclusive, um dos pontos de destaque da agenda internacional de Lula desde sua primeira presidência, em 2003. O Brasil, com Alemanha, Índia e Japão, integra o G4, grupo de países que postularam oficialmente sua entrada no conselho e apoiam as candidaturas um do outro.
Segundo Harumy, hoje o CSNU sofre de um entrave político e de interesses. "Não tem atuação propositiva, não tem uma agenda positiva perante o mundo, ficam se tratando apenas os problemas das crises, mas sem nenhum impacto na realidade."
"Hoje o mundo não é mais representado apenas pelos países do Conselho de Segurança."
Esse prognóstico não é apenas descrito pela professora da Fundação Santo André: segundo Trevisan, há uma "consciência internacional, principalmente em Washington e nas capitais europeias, de que o xadrez geopolítico é outro".
Com a ascensão geopolítica do Sul Global, seja de países que integram o BRICS, seja de outros países da América Latina, da África, do Oriente Médio e da Ásia, o professor da ESPM crava que o Conselho de Segurança terá que "encarar esses fatores geopolíticos".
"Aquele jogo que antes se fazia o Conselho de Segurança da ONU funcionar a partir dos interesses dos EUA e da então presente União Soviética, não vai mais funcionar."
No entanto, lamenta, entre as diversas reformas pretendidas na governança global, a expansão do CSNU "será o último passo".