Panorama internacional

Ausência do que fazer com Netanyahu expõe fraqueza dos EUA e debandada do Ocidente, dizem analistas

A relação do Ocidente com Benjamin Netanyahu não anda das melhores, em um cenário no qual as partes têm uma relação antiga de cooperação para o mesmo interesse: manter-se no poderio mundial. Algo que, segundo analistas, está por um triz.
Sputnik
Com a aproximação das eleições israelenses de 2026, fica cada vez mais visível a linha tênue na qual a gestão Netanyahu se encontra, apontam especialistas no assunto.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o doutor em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e analista internacional Eden Pereira Lopes sintetizou que "a ausência do que fazer com Netanyahu" é um dos principais problemas do Ocidente, em especial dos Estados Unidos.

"O Ocidente, sobretudo os Estados Unidos, não sabe como resolver a situação. Eles não têm uma fórmula para resolver a situação envolvendo as agressões de Israel contra a Palestina. Ao mesmo tempo, eles não conseguiram construir e não têm aliados internos de Israel no país que possam ser capazes de substituir a figura do Netanyahu, que habilmente se coloca em uma posição de ser o principal aliado e a figura que pode, em alguma medida, representar os interesses dos Estados Unidos naquela região", detalhou.

Ele continuou, dizendo que ao mesmo tempo que, "de uma maneira geral, o Ocidente, a Europa, principalmente os países europeus, têm um grande desconforto com a figura do Netanyahu, eles sabem que não podem fazer muita coisa, porque a capacidade de influenciarem a política de Israel é menor ainda do que a que têm, por exemplo, os Estados Unidos hoje".
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Países aliados sofrem com custos políticos

O analista internacional pontuou à Sputnik que Netanyahu é rejeitado publicamente por vários líderes, mas os países que são aliados de Israel não conseguem reverter o curso da política israelense.
"Eles [os países ocidentais] não têm essa capacidade, e isso faz com que o Netanyahu tenha a capacidade de fazer o que ele está fazendo hoje, que é ligar o piloto automático, no sentido das agressões e da violência […]. […] o Ocidente, ele se encontra em uma posição onde ele tenta, o máximo possível, enfraquecer a figura do Netanyahu, sem necessariamente abandonar Israel", arrematou o especialista.
Segundo Eden, o recente discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressando desconforto com as ações de Benjamin Netanyahu, reflete um momento crítico nas relações entre o Ocidente e Israel. Ele afirmou que "a grande questão que está posta para o Netanyahu hoje é que os atuais governos na Europa e nos Estados Unidos estão completamente desconfortáveis com o que está acontecendo na Palestina".
Lopes destaca que a pressão crescente da opinião pública nos países ocidentais não pode mais ignorar as atrocidades documentadas: "As pessoas literalmente recebem nos seus celulares, recebem nas suas TVs todos os dias, nas redes sociais, imagens de massacres que acontecem na Palestina".
Ele observa que os cortes de armamentos pelo Reino Unido, "temendo que essas armas fossem usadas contra a população civil", são uma resposta a essa pressão, e outros países ainda buscam mitigar sua responsabilidade histórica na situação.
O analista compara as ações do governo Netanyahu a um genocídio, afirmando que "o que nós vemos por parte das autoridades israelenses é um amplo e largo apoio a essas práticas violentas de genocídio que estão acontecendo no território palestino".
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"As manifestações contra o governo do primeiro-ministro Netanyahu não expõem que a sociedade israelense, em alguma medida, tem apoiado algumas das operações que são conduzidas dentro da Faixa de Gaza", critica o analista sobre a desumanização dos palestinos, sustentada por uma sociedade que, em parte, valida essas práticas.

Preocupações? EUA são 'ponto-chave para manutenção de Netanyahu'

Questionado sobre quais adversários deveriam despertar a preocupação de Netanyahu, André Frota, professor dos cursos de relações internacionais, ciência política e geografia no Centro Universitário Internacional Uninter, afirmou: "Toda decisão de política externa envolve sempre dois cenários, o nível externo e o nível doméstico".
Ele destaca que tanto o Hamas quanto o Hezbollah representam problemas externos, enquanto a opinião pública israelense se configura como uma questão interna crucial. "A sobrevivência política dele depende em grande medida da manutenção do conflito."
O cientista político também ressaltou a importância da busca pelos reféns mantidos pelo Hamas, afirmando que isso é "extremamente sensível" para a política interna de Israel.

"Boa parte das conquistas que ele detém se relaciona também com a manutenção da busca pelos reféns." Além disso, ele observa que "enquanto não houver uma solução para a situação individual do Netanyahu, o status quo para ele é manter o que está acontecendo".

Em relação ao apoio internacional, Frota afirmou que "do ponto de vista do poder bélico, sim", os Estados Unidos são fundamentais para a manutenção de Israel. Ele lembrou que a maioria das armas vem dos EUA, e "isso não vai deixar de existir, não existe nenhuma possibilidade de a aliança estratégica Estados Unidos-Israel deixar de acontecer".
Sobre a possibilidade de sanções a Israel, Frota destacou as limitações do sistema das Nações Unidas, afirmando que "nenhuma resolução do Conselho de Segurança que vai querer impor um pacote de sanções vai passar pelo veto norte-americano".
Isso, segundo ele, resulta em um "isolamento de Netanyahu com relação ao restante do mundo ocidental".
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