A decisão da União Europeia (UE) de impor tarifas sobre veículos elétricos chineses mudou o foco para como e quando Pequim retaliará pela escalada em sua maior disputa comercial com o bloco em anos.
De acordo com a Bloomberg, enquanto as negociações continuam, a posição adotada por alguns Estados-membros do bloco europeu sobre as medidas na semana passada (4), pode sugerir de que forma Pequim deve seguir com sua resposta afetando diferentes partes da Europa, uma vez que os que votaram pela implementação das medidas devem ser vistos de forma diferente pelo gigante asiático.
Durante a votação, o bloco acabou definindo a imposição de tarifas, com 10 Estados-membros a favor, cinco contra e 12 se abstendo. O Ministério do Comércio chinês disse que as tarifas vão abalar a confiança das empresas chinesas que investem na Europa e prometeu "tomar todas as medidas" para garantir os interesses de suas empresas.
"É claro que os chineses podem exportar os seus veículos eléctricos para países terceiros e de lá poderiam introduzir carros na Europa. Mas estas lacunas poderiam ser preenchidas e não afetariam a tendência geral", enfatizou Sisci.
A União Europeia (UE) "não recua nisso" e a mediação exercida pela Organização Mundial do Comércio "já não funciona", logo, seria necessário um "acordo bilateral que esperamos que as duas partes assinem", acrescentou o especialista.
Se não for alcançado um acordo, Pequim tem várias opções para reagir ao bloco europeu, cujas perspectivas econômicas já foram minadas nos últimos anos pelo aumento dos custos da energia.
As tarifas poderão afetar até 31% de todas as exportações chinesas de veículos elétricos. Só nos primeiros oito meses de 2024, a China entregou carros eléctricos no valor de € 7,7 bilhões (cerca de R$ 46,2 bilhões) à UE, de acordo com dados alfandegários. A Bélgica foi o maior comprador do bloco, com 55% (mais de R$ 25,1 bilhões) de todas as entregas. A Alemanha ficou em segundo lugar, com 14% (cerca de R$ 6,4 bilhões), e Espanha em terceiro, com 12,5% (aproximadamente R$ 5,7 bilhões) das importações.
Aqui estão as possíveis opções de resposta da China:
Tarifas de dois dígitos sobre carros de luxo europeus de grande cilindrada, como Porsche, Mercedes e BMW.
Tarifas sobre carne de porco, lacticínios, vinho, conhaque e outros produtos alimentares europeus. Pequim já anunciou em agosto uma investigação sobre os subsídios da UE às exportações de produtos lácteos, além de subsídios semelhantes à carne de porco e ao conhaque.
As autoridades chinesas também estão examinando as exportações europeias de produtos químicos e de saúde em busca de possíveis subsídios ocultos. As exportações de luxo francesas e italianas, como perfumes, também poderiam estar na meta.
Outras opções de retaliação incluem maquinaria, produtos industriais e aeroespacial, embora os observadores econômicos consultados pelos meios de comunicação econômicos dos EUA não acreditem que Pequim vá tão longe a menos que seja pressionada.
A China também poderia escolher um caminho diferente do aumento das tarifas, como aumentar os investimentos nas fábricas europeias para evitar totalmente as tarifas, por exemplo.
Em 4 de outubro, Bruxelas votou pela imposição de tarifas de até 45% aos veículos elétricos chineses.
Por sua vez, os partidos têm agora até 30 de outubro para impedir a aplicação das tarifas. A Câmara de Comércio UE-China criticou a votação, chamando a investigação de Bruxelas sobre os subsídios aos veículos elétricos chineses que levaram ao aumento das tarifas como uma "medida protecionista politicamente motivada e injustificada".
Também é importante notar que centenas de bilhões de euros estão em jogo no conflito comercial entre a China e a UE. Em 2023, a China exportou produtos no valor de € 515,9 bilhões (cerca de R$ 3,1 trilhões) para a UE, contra € 223,6 bilhões (mais de R$ 1,3 trilhão) em troca, o que representa um déficit comercial total com o país asiático de € 292 bilhões (aproximadamente R$ 1,7 trilhão). As tarifas podem ser concebidas para preencher essa lacuna, mas o tiro poderá sair pela culatra se Pequim responder com restrições aos produtos europeus.