Panorama internacional

Novas sondagens suscitam a pergunta: escalada no Oriente Médio pode levar Kamala Harris à derrota?

O apoio da candidata democrata Kamala Harris entre árabes-americanos e muçulmanos, bem como entre eleitores progressistas e jovens, caiu nas últimas semanas devido ao seu apoio às ações militares de Israel em Gaza e no Líbano, colocando em risco a sua vitória num estado essencial como Michigan.
Sputnik
Na última quarta-feira (9), a Universidade Quinnipiac, localizada em Connecticut, divulgou suas pesquisas finais antes da realização das eleições nos Estados Unidos.
A sondagem, que abrangeu três dos estados mais disputados, fundamentais para as aspirações tanto da candidata de Kamala Harris como para Donald Trump, mostrou um notável declínio da democrata na intenção de voto do trio dos territórios pesquisados, mas nenhum mais do que em Michigan.
No estado, a atual vice-presidente passou de ter 50% de intenção de voto em setembro (face aos 45% de Trump) para obter 47% na medição de outubro, com o republicano a assumindo a liderança com 50% das preferências.
Segundo analistas, este declínio é o resultado da viragem conservadora de Harris nas últimas semanas, que a viu realizar eventos de campanha com a ex-deputada republicana Liz Cheney e contar com o apoio do ex-vice-presidente Dick Cheney para endurecer a sua retórica sobre os imigrantes latino-americanos e, especialmente, o seu alinhamento com Israel, em um momento em que Tel Aviv expande os seus ataques aéreos ao Líbano, Síria e Iêmen, após matar mais de 42 mil palestinos em Gaza durante o último ano em resposta ao ataque de 7 de Outubro perpetrado pelo Hamas.
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Esta estratégia de Harris enfraqueceu a intenção de votos da democrata entre o eleitorado jovem e progressista e atingiu a sua popularidade entre os eleitores árabes-americanos e muçulmanos, um grupo que historicamente votou em candidatos democratas em todas as eleições.
Precisamente, o estado que reúne o maior número de eleitores descendentes ou imigrantes de países árabes (especialmente libaneses e palestinos) nos EUA é Michigan, um dos territórios essenciais na matemática da campanha de Harris para chegar à Casa Branca.
Se a candidata não prevalecer naquela região, o seu caminho para obter os 370 votos do Colégio Eleitoral torna-se quase inviável, segundo a sondagem. O candidato republicano exibe grande força em outros "estados azuis", como Wisconsin e Pensilvânia.
Na visão do internacionalista da Universidade de Palermo, Martín Falco, a política fracassada do governo Biden no Oriente Médio (que inclui a retirada catastrófica no Afeganistão e a contínua hostilidade contra o Irã), e especialmente a recusa de Harris em distanciar-se do apoio absoluto a Benjamin Netanyahu poderá ser catastrófica para a candidata democrata.
"Penso que é um dos aspectos mais desconcertantes da campanha de Harris o fato de ela não ter procurado chegar a esse eleitorado – mesmo que seja por razões eleitorais, não morais – que critica as ações de Israel, considerando que atualmente é uma maioria em seu partido. Deve ser lembrado que a campanha de Harris até se recusou a ter um orador palestino na Convenção Democrata, embora tenha convidado oradores de origem israelense, e a própria candidata se recusou a se comprometer para impedir o envio de armas norte-americanas para Israel se vencer as eleições", afirmou o especialista em entrevista à Sputnik.
Falco salienta que, embora o eleitorado árabe e muçulmano represente 4% da população total de Michigan, o que se traduz em 200 mil eleitores potenciais, a margem de vitória de Trump sobre Hillary Clinton em 2016 foi de apenas 10 mil votos, portanto, se a mudança nas intenções de voto por parte desse grupo se concretizar, poderá dar a eleição ao ex-presidente.
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O especialista ainda aponta que, de acordo com as últimas pesquisas, "Trump não apenas lidera Harris entre o eleitorado geral em Michigan, mas também o faz entre a população árabe e muçulmana, algo que ninguém poderia imaginar há apenas dois anos".
"Os eleitores veem que Biden e Harris falam sobre querer um cessar-fogo em Gaza, mas não só não o conseguem, como continuam a enviar armas para Tel Aviv, continuam a trabalhar em estreita colaboração com a Mossad e continuam a proteger diplomaticamente Israel nas Nações Unidas Ao mesmo tempo, quando Israel assassina dezenas de pessoas em áreas civis nas suas operações contra os líderes do Hamas ou do Hezbollah, a Casa Branca emite declarações elogiando estes massacres, deixando claro que o seu compromisso é com a violência e não com o diálogo", diz Falco.

Embora o especialista assinale que Trump tenha prometido nesta campanha que vai reimplementar a ordem executiva que estabeleceu em 2017 e proibir a entrada no país de cidadãos de uma série de países de maioria muçulmana, boa parte dos árabes-americanos acredita que uma ação deste tipo, por mais repreensível que seja, não é comparável ao que Biden e Harris têm feito ao financiar e apoiar Israel.
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Falco também aponta que muitos eleitores pró-Palestina preferem Trump a Biden, pois o consideram um político pragmático, pensando que embora o republicano tenha um bom relacionamento com Netanyahu, ele não hesitaria em se livrar do primeiro-ministro israelense se isso fosse conveniente politicamente.
"Em muitos casos, a mudança deste eleitorado em direção a Trump é explicada pela lógica do mal menor, e não é ilógico que o desejo de punir Biden e Harris por permitirem que Israel bombardeie diariamente os seus países e as suas famílias seja maior do que qualquer outro argumento, por outro lado, outros eleitores desse grupo decidiram apoiar a candidata independente Jill Stein, que entre os árabes e muçulmanos no Michigan obteria quase um terço dos votos. [...] para esses eleitores, Stein é a melhor opção porque ela é a única candidata que criticou diretamente Netanyahu", diz Falco.
No entanto, o analista conclui que é "inexplicável" que Harris tenha sido recrutada no último minuto após o descalabro de Biden no debate presidencial com Trump com o objetivo de se distanciar de um governo muito impopular como o do atual presidente, a partir do momento que, na maioria das questões, incluindo Israel, mantêm a mesma posição.
"É absurdo e claramente uma má estratégia eleitoral. Mas se há algo que não pode ser contestado em Washington, é a máquina de guerra, e Harris está a testar isso, mesmo que prejudique os seus interesses", conclui.
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