Panorama internacional

Analistas: BRICS é cada vez mais visto como grupo-chave para romper cadeias de dependência econômica

A XVI Cúpula do BRICS começa a partir de amanhã (22) e terá entre seus desafios a revisão de novas adesões ao bloco, bem como o estabelecimento de mecanismos que permitam a desdolarização e medidas necessárias para a consolidação da multipolaridade, consideraram especialistas entrevistados pela Sputnik.
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A cúpula, a ser realizada na cidade russa de Kazan, teve a participação confirmada de um total de 32 países. O lema da presidência russa dos BRICS em 2024 é "Fortalecendo o Multilateralismo para o Desenvolvimento e Segurança Global Equitativos".

"Em um contexto global em que os países em desenvolvimento lutam para quebrar as cadeias da dependência econômica, o BRICS se apresenta como um grupo com um potencial fundamental para alcançar uma maior independência", considerou o analista boliviano Martín Moreira em entrevista à Sputnik.

A associação não só representa quase metade da população do planeta, mas também é responsável por mais de 37% do PIB mundial. Para Wilmer Depablos, analista internacional e ex-diplomata venezuelano, o grupo comercial já enfrenta o G7.

"A tendência para 2028, dita pelo próprio presidente Vladimir Putin, é que o BRICS se consolide e atrás estará o G7, atrás estará o dólar, atrás estará o SWIFT e atrás estará a hegemonia desse mundo unipolar que hoje enfrenta o nascimento do novo mundo multipolar e plural", destacou.

O analista internacional argentino Sebastián Schulz disse em diálogo com a agência que entre os membros do BRICS, há um consenso de que atravessam atualmente um "ponto de virada" a nível global.

"Não só a crise do Ocidente está piorando, [mas também] a crise da hegemonia norte-americana, com cada vez menos capacidade para disciplinar o mundo emergente e para fornecer o que se chama de bens públicos globais ao resto da ordem internacional", ele explicou.

Nesse sentido, o economista e professor venezuelano Jorge Pérez destaca o potencial da aliança para transcender o econômico e permitir alianças políticas, considerando os desafios representados pelas disparidades internas do grupo.
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No mesmo sentido, pronunciou-se Schulz, destacou que apesar das disputas históricas que existem entre os países que são membros ou aspiram a aderir ao grupo, como é o caso entre Índia e Paquistão, há a convicção dos Estados sobre o papel da economia global que a associação está desempenhando.
"A quantidade de países que solicitaram adesão ao BRICS expressa a decisão de todas essas nações de fazerem parte do debate para a estruturação de uma nova ordem internacional e o reconhecimento do BRICS como um espaço legítimo para a realização desses debates naquele espaço", destacou o especialista.
Neste sentido, o especialista destacou que será necessário definir a forma como os países candidatos à adesão ao grupo BRICS poderão acessá-lo, ou seja, se será massivo, gradual, ou se uma nova categoria será emergir não como Estado-membro, mas como um Estado associado. Por exemplo, Cuba solicitou recentemente a adesão como "país parceiro".
Dora Isabel González, acadêmica da Faculdade Mexicana de Estudos Superiores Acatlán da UNAM, afirmou que o grupo está em um "processo de maturidade" em sua consolidação. "É um contrapeso, mas vai depender muito do movimento que eles fizerem porque também tem questões delicadas", afirma.
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Na América Latina, o BRICS representou uma oportunidade para os países em desenvolvimento impulsionarem as suas economias.

"Um dos aspectos mais esperançosos é a possibilidade de mais países latino-americanos, como a Bolívia, entrarem no grupo. Este passo pode marcar o início de uma nova era de multilateralismo, onde os países em desenvolvimento terão uma plataforma de intercâmbio mais equitativa", considera Martín Moreira.

Para Schulz, a integração da região, a qual considera uma das mais desiguais do mundo, ainda é um desafio à cúpula do BRICS, devido aos processos de interferência dos EUA através da promoção de golpes de Estado ou "golpes suaves" e lawfare (guerra legal), entre outros.
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Passos para a desdolarização

Outro dos principais temas que serão abordados na cúpula será a consolidação dos mecanismos monetários para o comércio entre os membros com foco na desdolarização.

"[Os mecanismos monetários para conduzir o comércio sem depender do dólar devem ser] decididos, considerando opções como o uso do yuan, a criação de uma moeda digital lastreada em ouro ou de uma cesta de moedas, e um sistema de compensação semelhante ao SWIFT, como a BRICS Bridge", comentou Emilio Hernández, analista político, para a Sputnik.

Por sua vez, a analista mexicana Dora Isabel González considerou que o BRICS "está se distanciando do dólar e já procura modalidades mais frescas; estão saindo, digamos, desta fronteira muito sólida" imposta pelo Ocidente.
Embora o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tenha expressado recentemente que neste momento não está na agenda discutir o surgimento de uma moeda comum, na cúpula, serão abordadas medidas para facilitar as transações.
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