Panorama internacional

Aumento das tensões no Oriente Médio: fraqueza ou estratégia da política externa dos EUA?

Os aparentes "rompantes" do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com ataques massivos e desproporcionais a vários países do Oriente Médio, têm aumentado em número e grau nas últimas semanas.
Sputnik
Seja no massacre na Faixa de Gaza, que já matou cerca de 43 mil pessoas, de acordo com autoridades locais, nos bombardeios contra o Líbano, na Síria ou nas ameaças às usinas nucleares do Irã, é unanimidade entre analistas ouvidos pela Sputnik Brasil que tal postura e violência tem ocorrido sobretudo devido ao aval e, às vezes, ao apoio do principal aliado do Estado sionista: os Estados Unidos.
Entretanto, o temor global de uma escalada das tensões para uma potencial guerra global vem crescendo, assim como as suspeitas divulgadas pela imprensa mundialmente de que os EUA perderam o controle sobre Israel.
Para debater esse tema, o podcast da Sputnik Brasil Mundioka, no episódio desta terça-feira (22), ouviu os professores Thiago Oliveira, mestre e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e pesquisador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI); e Gabriel Mathias Soares, doutor em história social, mestre em estudos árabes pela Universidade de São Paulo (USP) e professor na Habib University, em Karachi, Paquistão.
Ambos os estudiosos destacaram que o apoio "irrestrito" dos EUA existe há décadas, tornando-se mais evidente com a escalada do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, iniciada em 7 de outubro de 2023.
Oliveira pontuou que a política externa norte-americana historicamente "adota quase que uma posição acrítica a algumas políticas adotadas por Israel na região", com diversos episódios de desrespeito sistemático de direitos humanos.

"Desde 1948, Israel recebeu US$ 150 bilhões [R$ 855,4 bilhões] em auxílio militar apenas dos Estados Unidos, e desde o início do conflito, no ano passado, em 7 de outubro, da intensificação desse conflito na região, os Estados Unidos já despenderam mais de US$ 17,9 bilhões [R$ 102 bilhões] em auxílio militar para Israel", ressaltou o pesquisador do NEAI.

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Para Soares, no governo Joe Biden houve inclusive um revigoramento das relações com Israel sem precedentes:

"As munições, a parte de inteligência, tudo tem sido de grande apoio dos Estados Unidos. Eles têm, na realidade, mantido uma relação de muita proximidade. […] por mais que haja, em alguns discursos, alguma iniciativa de que isso mude, na prática há muito mais acordo do que divergência", pontuou Soares.

Ele salientou que desde o último ataque do Irã, os EUA enviaram sistemas de defesa dos mais avançados que existem: "Só existem sete, eles estão enviando dois para Israel, então a relação é de muito apoio e muita proximidade".
O especialista em Oriente Médio também lembrou que o próprio governo do ex-presidente Donald Trump mudou a embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, entre outras medidas pró-israelenses:

"Por exemplo, a questão nas Colinas de Golã, o governo Trump reconheceu a anexação de Israel das Colinas de Golã, e até agora Biden não reverteu isso, apesar de ter mostrado alguma reticência em relação ao status final. Aqui e ali, discursos, mas, na prática, nada dessas posições que mudaram a prática anterior dos governos americanos […]."

Entretanto, ponderou Oliveira, a desproporcionalidade da força que Israel desempenha nos recentes embates bélicos tem impactado negativamente a imagem e a presença dos Estados Unidos naquela região.
Ele argumenta que o governo Biden subestimou Netanyahu frente ao conflito com o Hamas, "o quanto ele estaria disposto a sistematicamente desrespeitar decisões dentro da própria ONU, até mesmo acusar a própria ONU, o próprio secretário-geral de antissemitismo".
As contradições criadas pelo apoio incoerente dos EUA a Israel têm limitado a capacidade do país de atuar como mediador principal nessa região do Oriente Médio, opinou Oliveira.

"Desde o 7 de outubro do ano passado, a gente vê uma permissividade clara do governo norte-americano a diversas atitudes sistemáticas tomadas pelo governo de Israel", disse Oliveira.

Entre as várias contradições que envolvem o apoio estadunidense a Israel está o fato de que os EUA são um dos financiadores e apoiadores do Exército libanês:

"Ou seja, armas dos americanos, provavelmente munição dos Estados Unidos, foram usadas para matar quem também é armado e treinado pelos Estados Unidos", ponderou Soares. "Inclusive no Irã é essencial o apoio dos Estados Unidos para poder monitorar uma região que está tão longe fisicamente de Israel."

Tal posicionamento tem criado um vácuo que outros players internacionais, como China e Rússia, têm aproveitado para ocupar.

"Então, por conta disso, está também criando um vácuo de atuação, e você está tendo, por exemplo, uma Rússia hoje muito mais próxima do Irã. Você está tendo uma China que está visando, pela via mais econômica, adentrar ainda mais aquela região, e tudo isso com um apelo muito mais positivo para vários países da região do que o apelo que os Estados Unidos estão trazendo", disse ele.

Tendo em vista o posicionamento dos candidatos à presidência dos EUA nas eleições de novembro, tudo indica que a atual política externa pouco mudará com a troca de mandatário:

"Porque não é, evidentemente, só o Biden, é toda uma estrutura. Existe o Pentágono, existe toda a infraestrutura que alimenta inclusive Israel. Depende do próprio sistema militar", comentou Soares.

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