Assessor especial da presidência para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim foi convidado para questionamentos pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Em resposta aos parlamentares nesta terça-feira (29), ele defendeu a manutenção do diálogo com a Venezuela, apesar do "mal-estar" presente.
Nos últimos meses, as relações diplomáticas entre os dois países sul-americanos se tornaram tensas. Após uma eleição conturbada na Venezuela no final de julho, o Brasil — junto da Colômbia e do México — assumiu o papel de mediador entre as partes.
Na época, o presidente Nicolás Maduro, prometeu aos seus interlocutores brasileiros apresentar as atas que comprovariam sua vitória eleitoral. "Algo nos foi dito e não foi cumprido", comentou Amorim.
Desde então, Amorim relata que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não conversa diretamente com Maduro, apenas com interlocutores. Ainda assim, pedidos como de deputados da oposição para a quebra de relações diplomáticas não devem ser ouvidos, explicitou o assessor.
"O mal-estar existe, mas se quisermos alguma influência em um processo de democratização, precisaremos de interlocução."
Segundo o embaixador, ano que vem estão previstas eleições regionais e parlamentares. "É um risco, mas também uma oportunidade". "Se um país quer ter importância positiva, não pode se desqualificar como interlocutor."
Amorim destacou ainda que a importância de manter os canais abertos não se encontra apenas na influência do processo democrático venezuelano, mas também para impedir que outro poder entre no vácuo deixado.
"Se não, vêm outros. Você tem de um lado os Estados Unidos e, do outro lado, tem países distantes. Não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia."
Venezuela no BRICS
Após ambos participarem da 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia, o Brasil foi acusado pela Venezuela de bloquear sua entrada no grupo de países.
Como resposta, a chancelaria venezuelana acusou o Itamaraty de conspirar contra o país e classificou o gesto como uma "agressão".
Para Amorim, de fato, a Venezuela neste momento não contribuiria para um "melhor funcionamento do BRICS".