Uma nova perspectiva para as estatísticas que refletem a realidade do Sul Global. Assim o presidente do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, resumiu à Sputnik Brasil o encontro entre dirigentes do setor nos países do BRICS.
Conforme Pochmann, as reuniões já ocorriam desde 2016, mas pela primeira vez nove países se juntaram, por conta da expansão inédita do grupo, que passou a contar a partir deste ano com Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã, dez países ao todo — junto com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Conforme o dirigente brasileiro, durante a própria cúpula já foi reconhecido, no documento final, o papel das estatísticas nos países. "Inclusive, dos mais de 100 pontos levantados no documento, aparece pela primeira vez uma menção à importância das estatísticas para o BRICS. Então, justamente por essa manifestação que os chefes de Estado fizeram, a reunião terminou considerando o protagonismo que passam a ter os institutos nacionais de estatística na montagem de uma perspectiva que mostra, cada vez mais,
a realidade do BRICS, em primeiro lugar, mas
contemplando a realidade do Sul Global", declarou.
Pochmann destacou ainda que os congressos internacionais de estatística começaram no mundo ainda em 1853, porém expressavam "uma preocupação muito maior com a realidade do Norte Global do que com o Sul Global, especialmente a visão eurocentrista do século XIX". Esse panorama se manteve até o fim do século XX, inclusive em meio à criação da Organização das Nações Unidas (ONU) no pós-guerra.
Para o presidente do IBGE, o encontro também mostrou que há uma convergência com os novos membros do BRICS. "Há uma diversidade muito grande, mas todos concordam com a necessidade de modernização das estatísticas. Também houve uma discussão muito importante sobre a formação profissional dos que estão à frente das instituições, uma preparação para que possam estar mais conectados com as novidades que a própria era digital apresenta", disse, ao acrescentar que os países contam com um portal conjunto que reúne informações como evolução da população, desemprego e produto interno bruto (PIB).
A expectativa é que o próximo encontro conte com a liderança do Brasil, que, segundo Marcio Pochmann, terá entre as propostas a discussão de indicadores econômicos, sociais e ambientais a partir da perspectiva sul-americana. É o caso da necessidade de aprimorar as estatísticas das pessoas que vivem em situação de rua, que é uma
preocupação em comum entre os membros do BRICS, a partir de pesquisas mais adequadas principalmente para as grandes cidades.
Com relação à soberania de dados, o dirigente brasileiro pontuou que há realidades bem distintas entre o grupo. Como exemplo, citou mecanismos de controle em que países como Rússia, Irã e China já estão à frente, enquanto Brasil e África do Sul, por exemplo, deles ainda não dispõem. Isso ainda abre caminho para uma maior cooperação entre os países.
O presidente do IBGE destacou ainda que,
para além do BRICS, o Brasil tem liderado discussões importantes em meio às reuniões do G20, que conta com a liderança rotativa do país neste ano. O próximo encontro entre os dirigentes dos órgãos de estatísticas, segundo Pochmann, vai contar com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, na sigla em inglês) para discutir o
uso constante da Internet por crianças e adolescentes e como isso afeta o desempenho, principalmente educacional.