Panorama internacional

'O momento da verdade está chegando, a ordem mundial do passado ficou para trás', diz Putin

Estamos destinados a viver uma era de mudanças radicais e a ser participantes de processos cada vez mais complexos, enfatizou nesta quinta-feira (7) o presidente russo, Vladimir Putin, durante fala no Clube Valdai de Discussões Internacionais.
Sputnik
Putin afirmou que "uma nova ordem mundial está sendo formada sob nossos olhos" e que a velha ordem mundial "ficou para trás".

"Estas duas últimas décadas não foram apenas repletas dos acontecimentos mais importantes, por vezes dramáticos, de escala verdadeiramente histórica. Diante dos nossos olhos está se formando uma ordem mundial completamente nova, não semelhante à que conhecemos do passado. Novos poderes estão surgindo. Os povos estão mais claramente definidos e estão mais conscientes dos seus interesses, do seu valor próprio, da sua originalidade e da sua identidade", refletiu o mandatário.

Putin alerta para aventureirismo ocidental e risco de escalada nuclear

O mandatário observou que a democracia está sendo cada vez mais interpretada como o governo da minoria, e não da maioria.
Ele criticou o liberalismo ocidental, afirmando que tem levado a uma intolerância extrema e à agressão, e advertiu que o mundo está se aproximando de um limite perigoso.

"As chamadas para derrotar a Rússia refletem o aventureirismo imprudente de certos políticos", destacou Putin, alertando que a crença cega do Ocidente em sua própria impunidade pode levar a uma tragédia.

O presidente também observou que não há garantia de que armas nucleares não serão usadas pelo Ocidente.
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'A democracia vem cada vez mais sendo interpretada como governo da minoria'

"Cada vez mais a democracia é interpretada como o poder não da maioria, mas da minoria. E eles até contrastam a democracia tradicional e a democracia com alguma liberdade abstrata, na qual os procedimentos democráticos, as eleições, a opinião da maioria, a liberdade, o discurso e o apartidarismo da mídia, como alguns acreditam, podem ser negligenciados e doados", afirmou o presidente russo.

Putin relembrou também as sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia e ressaltou que as medidas não tiveram efeito.

"Nossos oponentes presumiram que dariam à Rússia um golpe esmagador e um nocaute, do qual ela simplesmente não se recuperaria, e iria deixar de ser um dos elementos-chave do cenário internacional. O mundo precisa da Rússia, nenhuma decisão dos líderes ocidentais ou americanos pode mudar isso", rebateu.

Apesar da tentativa de imposição ocidental, Putin pontuou que a Rússia não vê o Ocidente como inimigo nem enxerga as relações globais como uma questão de "nós contra eles". Além disso, ele criticou diretamente a política dos Estados Unidos e de seus aliados, afirmando que ela tem seguido o princípio de "se eu não posso ter, ninguém terá".
Enfatizando a política de não interferência da Rússia, Putin destacou que o país não busca ensinar ou impor sua visão de mundo a outros. O chefe do Executivo também declarou que não pode haver hegemonia no ambiente internacional emergente e que a Rússia luta não só pela sua soberania, mas também pela liberdade de todos os países.

'OTAN forçou a Rússia e conseguiu o que queria com o conflito na Ucrânia'

"A Europa está agora tentando alargar as suas abordagens a outras áreas do mundo, violando os seus próprios documentos estatutários. Isso é simplesmente um anacronismo absoluto", disparou o presidente russo ao se referir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
De acordo com o presidente, os países da OTAN levaram a situação na Ucrânia a um golpe e forçaram a Rússia para alcançar o que queriam com o início do conflito ucraniano. Ele ainda pontuou que a Rússia não foi responsável por iniciar as ações de força, mas, quando necessário, toma as medidas para defender o país.
"Nosso país nunca foi e não é o iniciador do uso da força", afirmou Putin sobre o uso da força para resolver conflitos no mundo moderno.
"Somos levados a isso apenas quando fica claro que o oponente age de forma agressiva, sem aceitar nenhum argumento, absolutamente nenhum. E, quando necessário, tomaremos todas as medidas para proteger a Rússia e cada um de seus cidadãos, e sempre lutaremos para alcançar nossos objetivos."
Por outro lado, ao falar do BRICS, o mandatário, além de ressaltar que o grupo representa bom exemplo de cooperação construtiva, contou que há países-membros da OTAN interessados em trabalhar com essa nova força.
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A Rússia está pronta para negociações de paz com a Ucrânia com base nas realidades atuais e nos acordos alcançados anteriormente em Istambul, na Turquia, disse Putin.

'Internet deve obedecer às leis do país em que é utilizada'

Já durante a coletiva, após discursar na abertura do Clube Valdai de Discussões Internacionais, Putin respondeu a perguntas sobre tecnologia, inteligência artificial, economia e mudanças climáticas.
Em relação à Internet, o presidente afirmou que a proibição da rede seria contraproducente para um Estado soberano como a Rússia. Entretanto, ponderou que deve obedecer às leis do país onde está sendo utilizada.

Meio ambiente

Os países que recentemente propagandearam a energia verde estão aumentando a geração a carvão, disse o presidente russo.

"Aqueles que fizeram mais barulho sobre isso estão, infelizmente para todos e para si mesmos, provavelmente agindo na direção oposta. A geração a carvão na Europa aumentou dramaticamente. Há pouco tempo, todos na Europa estavam fazendo muito barulho sobre o fechamento da geração a carvão. Eles não apenas não a fecharam, como agora a aumentaram. É estranho, mas é um fato", afirmou o líder russo, apontando que os países que poluem a atmosfera estão tentando impor uma suposta agenda verde.

Eleições nos EUA

Comentando os resultados da eleição presidencial dos EUA, Putin disse que não sabia quais seriam as próximas ações de Donald Trump.

"Não sei o que vai acontecer agora, não tenho ideia. Afinal, este é o último mandato para ele. O que ele fará, essas são questões para ele", disse Putin.

O líder russo disse esperar que os Estados Unidos percebam que não é necessário impor sanções contra a Rússia nem fomentar conflitos perto de suas fronteiras.
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"Não está claro por que os Estados Unidos se permitem fazer isso [impor sanções]. Espero que eles também acabem percebendo que é melhor não fazer isso se não quisermos conflitos globais", frisou, acrescentando que espera que as relações entre a Rússia e os EUA sejam restauradas algum dia.

Sistema de confiança mútua

Putin defendeu o regresso a um sistema de confiança mútua entre a Rússia e a Europa, apontando que esse aspecto seria o primeiro passo na criação de um novo sistema de segurança.

"O principal problema nas relações entre a Rússia e os países europeus é o déficit de confiança […]. Temos de regressar ao sistema de confiança mútua, pouco a pouco. […] podemos discutir isso até amanhã, mas esse é o primeiro passo para criar um sistema de segurança unificado", disse.

O presidente enfatizou que a Europa deve ser parte integrante do sistema de segurança da Eurásia.
"Devemos tentar construir um sistema de segurança no continente eurasiático. Esse continente é enorme, e, claro, a Europa pode e, na minha opinião, deve ser parte integrante desse sistema", afirmou o líder russo.

Moeda única no BRICS?

"É muito cedo para falar sobre uma moeda única do BRICS", disse o presidente russo.
Ele destacou ainda que 88% do volume de negócios dos países que compõem o BRICS são realizados em moedas nacionais.
"Não estamos lutando, a nossa proposta não é de lutar contra o dólar. Estamos simplesmente pensando em criar novos instrumentos em resposta aos desafios dos novos tempos, em resposta às novas tendências no desenvolvimento da economia mundial", comentou Putin.
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