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Musk no governo Trump, Starlink no Brasil e chegada de empresa chinesa: o que esperar dessa relação?

Em um ano marcado por troca de farpas e acusações mútuas entre o bilionário Elon Musk, o governo do presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF), a dependência do Brasil da Internet via satélite oferecida pela Starlink se tornou motivo de preocupação. O anúncio de que o empresário fará parte da gestão Trump deixou a situação mais tensa?
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De um lado, um país com dimensão continental, vastas áreas marítimas e pontos remotos em que o acesso terrestre é limitado. Do outro, a facilidade trazida pela Internet para a comunicação e o desenvolvimento econômico, mesmo nos locais mais distantes. Para suprir essa demanda, o serviço de navegação via satélite se tornou uma das principais alternativas no Brasil por ser acessível e ter valores competitivos, principalmente na Região Amazônica. É nesse contexto que a Starlink, da norte-americana SpaceX, iniciou as operações no Brasil em janeiro de 2022.
Cada vez mais, o provedor se tornou um importante fornecedor de Internet, inclusive para órgãos do poder público e estatais: são casos como o da Petrobras, que contratou a empresa para prestar o serviço em plataformas de exploração de petróleo, além do Exército e da Marinha. Durante a tragédia causada pelos temporais no Rio Grande do Sul neste ano, por exemplo, as Forças Armadas chegaram a disponibilizar centenas de pontos de Internet da Starlink nas comunidades mais afetadas.
Apesar de ainda representar apenas 0,9% das conexões no mercado nacional, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Internet via satélite já vê quase um monopólio no Brasil, com quase 46% do mercado atendido pela Starlink, companhia ligada ao empresário Elon Musk, que, durante embates com o STF por conta da rede social X (antigo Twitter), também controlada pelo magnata, chegou a desobedecer as ordens de bloqueio do acesso em território nacional.
Aliado a isso e às trocas de farpas com autoridades brasileiras — durante o G20 Social, as críticas da primeira-dama Janja da Silva fizeram até o sul-africano declarar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai perder as próximas eleições —, Musk também foi anunciado como membro do governo do republicano Donald Trump a partir de janeiro, próximo ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
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É nesse cenário que o governo brasileiro iniciou sua aproximação com a chinesa SpaceSail, criada também para oferecer Internet via satélite. Durante encontro com o presidente Xi Jinping no âmbito do G20, Lula chegou a oferecer a base de Alcântara, no Maranhão, um importante centro de lançamento de equipamentos ao espaço, para que a companhia realize testes. O objetivo principal é fomentar a competição nesse setor. Diante de tudo isso, como deve ficar a relação entre o Brasil e a Starlink?
O doutorando e mestre em ciência política pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro "Globalização digital e a crise do Estado moderno", Paulo Cesar Gomes dos Santos, afirmou à Sputnik Brasil que "ainda há muitas dúvidas sobre como efetivamente será o segundo governo Trump", mas certamente o presidente eleito dos Estados Unidos terá mais poder, quando comparado à primeira vez que esteve na Casa Branca. Um dos nomes que mais apoiaram o republicano durante as eleições, Musk vai comandar um novo departamento para melhorar a "eficiência governamental".

"É óbvio que Musk vai assumir esse cargo numa situação de defesa dos interesses próprios, e não de defesa do interesse público. E ainda seguindo na SpaceX, que é a empresa que nos interessa mais, porque a Starlink é uma subsidiária da SpaceX, os contratos novos ou antigos da SpaceX podem ser bastante beneficiados por um sistema regulatório fraco, ou até inexistente. Se esses planos de redução ou eliminação das medidas regulatórias forem à frente, a Starlink pode conquistar muitas vantagens no mercado", avalia.

Aliado a isso, o especialista lembra que a Starlink já conta com posição privilegiada no mercado, já que possui poucos concorrentes, justamente pela forma com que atua.
"É a empresa líder mundial de Internet por satélites de baixa altitude. Essa é uma tecnologia nova que oferece conexão de alta velocidade por preços mais acessíveis. Isso porque, os satélites estando mais baixos, a distância entre a pessoa que está na superfície da Terra e o equipamento é menor, o que proporciona um sinal melhor quando comparado aos satélites de média altitude ou os aerostacionários, ainda mais distantes", diz.
Com o dono da empresa dentro do governo norte-americano, Santos acredita que a Starlink terá "uma alavancagem política nas negociações com o Brasil e outros países do mundo", o que irá reduzir margens de manobra com a companhia, já que também há poucas opções disponíveis no mercado.
"Portanto, acredito que a presença do Elon Musk no governo de Trump vai levar o Brasil a buscar mais parcerias e mais relações com empresas que ofereçam opções. Há essa opção que se tornará não só comercial, mas essencialmente política", diz.
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Qual é a melhor Internet via satélite?

Os últimos dados divulgados pela Anatel em maio deste ano mostram que, no setor de Internet via satélite, a Starlink assumiu a liderança com mais de 200 mil acessos, seguida pela também norte-americana Hughesnet (179 mil), Viasat (26 mil) e Telebras (20 mil). Em 2023, a companhia de Musk detinha apenas 15,8% do mercado. Já a chinesa SpaceSail, com a qual o governo brasileiro iniciou uma aproximação, ainda está em fase de testes para iniciar a operação.

"Seria inteligente para o governo brasileiro buscar opções como uma maneira de contrabalançar a instabilidade e as incertezas trazidas por figuras públicas que se mostram claramente incapazes de gerar confiança em termos políticos. Por outro lado, a SpaceSail ainda não é uma opção no curto prazo, mas pode vir a ser no médio e longo prazo. Eles pretendem lançar uma frota de 600 satélites até o final de 2025, e a implementação da primeira fase operacional só vai acabar em 2027, quando vão lançar mais de 800 satélites para totalizar 1,4 mil ativos em órbita. Ainda é pouco em comparação aos 6 mil da Starlink, mas é um passo grande", declarou.

Além disso, o especialista lembra que a empresa conta com o apoio do governo chinês, que vê na exploração da Internet via satélite algo crucial até para as próprias questões geopolíticas e militares, além de apoiar a consolidação da Iniciativa Cinturão e Rota, popularmente chamada Nova Rota da Seda.
"E, por fim, eu penso que os embates entre Musk e o governo brasileiro são um grande incentivo à postura de construir uma competição saudável no mercado de Internet brasileiro e, principalmente, nesse mercado de Internet via satélite, que é vital para nós, por causa do tamanho do nosso país e das necessidades crescentes no interior do país. E também é de grande importância prestar atenção no fato de que a Starlink está caminhando para se tornar uma empresa monopolista, mais um grande monopólio da Internet", acrescenta.
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Com planos que possuem preços variados e cobertura em todo o país, o especialista explica que ainda não é "realista" cancelar ou reduzir a atividade da companhia no Brasil, o que pode trazer consequências ruins. "Isso não só para o interior, que não terá muitas opções de Internet acessível e de melhor conexão, mas também o agronegócio, que cada vez mais se utiliza desse tipo de tecnologia. E também pode trazer consequências para a navegação, que ocupa toda a nossa Amazônia Azul, que tem enorme importância."
Diante disso, buscar novas parcerias, como acontece com a empresa chinesa, mesmo que para o longo prazo, é crucial no país para que o segmento tenha uma real concorrência e um mercado saudável, finaliza o doutorando.
Já o professor de relações internacionais e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", Luiz Felipe Osório, avalia à Sputnik Brasil que um problema no país é "franquear serviços essenciais, como o acesso à Internet, para empresas estrangeiras, em detrimento de empresas públicas" nacionais.

"Existir um contrato de serviços de satélites com empresas estrangeiras é perigoso, pois deixa o país muito vulnerável em áreas estratégicas a ameaças e a conflitos […]. O Brasil pode e deve negociar com qualquer empresa por condições melhores, caso contrate um serviço. Estabelecer uma política de barganha entre concorrentes, principalmente oriundos de potências estrangeiras, é uma manobra das relações internacionais, que já foi bem-sucedida em momentos anteriores da história diplomática nacional", pontua.

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