Página virada: esse é o termo que define a retomada do Programa Espacial Brasileiro após uma década de apagão orçamentário, quando apenas R$ 2 bilhões foram empenhados ante R$ 5,7 bilhões previstos — o novo ciclo de investimentos iniciados em 2022 segue de vento em popa.
Prova disso é que a base de Alcântara, uma das mais promissoras do mundo por conta da localização estratégica na linha do Equador, já está com 85% da capacidade prevista para ser usada no próximo ano.
A situação levou a Força Aérea Brasileira (FAB) a ampliar os lançamentos a partir da Barreira do Inferno, em Parnamirim, no Rio de Grande do Norte.
Desde o início da última semana, acontece nesta sexta-feira (29), na base, a primeira fase da Operação Potiguar, que enviou ao espaço o foguete suborbital VS-30-V15, que conta com tecnologia nacional produzida pelo Instituto Aeronáutico do Espaço (IAE).
O coronel aviador Christiano Pereira Haag, que é diretor da unidade, explicou à Sputnik Brasil que o objetivo da ação é atender a crescente demanda do mercado mundial no setor.
"Alcântara, para o ano que vem, já está com 85% do seu slot ocupado, então a ampliação de outro centro de lançamento vai ser primordial para o desenvolvimento do Brasil no Programa Espacial Brasileiro. Esse foguete agora que estão lançando não tem nenhum dinheiro de parceiros externos", explica.
Conforme o coronel, o foguete consegue ultrapassar a barreira de 100 quilômetros de altura e, antes de retornar para a Terra, entra em situação de microgravidade, o que permite realizar diversos estudos.
"Em lançamentos suborbitais, nós conseguimos fazer vários experimentos que ajudam a melhorar o dia a dia das pessoas. Por exemplo, conseguimos validar tecnologias espaciais, conseguimos fazer testes de remédios, testes de ligas metálicas, entre outros", acrescenta.
Quando começou o Programa Espacial Brasileiro?
Em 1961, o então presidente Jânio Quadros criava o grupo de organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE), que dava o pontapé ao programa espacial do país. Atualmente, o Brasil se destaca no lançamento de satélites, enviados ao espaço a partir de foguetes. O coronel aviador enfatiza que a operação na Barreira do Inferno ajuda a desenvolver a tecnologia nacional.
"O centro da Barreira do Inferno sempre esteve ativo. Nós já lançamos mais de 3 mil engenhos espaciais, sendo que nos outros anos estávamos vocacionados para detectar missões de rastreio. O que seria o rastreio? Seria o monitoramento de foguetes e satélites lançados daqui ou de outros centros ao redor do mundo", conta.
Além disso, o projeto na unidade é um braço do Programa de Microgravidade da Agência Espacial Brasileira (AEB). "Os testes em ambientes de microgravidade têm impacto na vida dos brasileiros diretamente no dia a dia. São algumas tecnologias que nós utilizamos e, muitas vezes, não sabemos como foi criado", pontua.
Já com relação à unidade no Rio Grande do Norte, o diretor lembra ainda que a estrutura fica em uma área estratégica, próxima ao Aeroporto Internacional de Natal e ao porto. "É um polo que facilita muito a integração de qualquer ente que queira lançar da base por conta da facilidade logística. E também estamos em um área marítima, o que dá mais segurança para a operação de lançamento. Esse é um ponto importante, além da necessidade da FAB em ampliar a capacidade brasileira a partir dessa estrutura que já estava instalada", finaliza.
Quanto o Brasil investe no programa espacial?
O ciclo do programa espacial entre 2022–2031 traz diferentes realidades orçamentárias para o período, que vai de R$ 1,2 bilhão a R$ 13,2 bilhões. O plano ainda conta com dois projetos que envolvem parceiros internacionais: China e Argentina.
Com os chineses está em desenvolvimento o satélite CBERS-6: a metade brasileira do equipamento é feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos. Ao todo serão investidos US$ 100 milhões (R$ 601 milhões) no projeto, e a expectativa é de que seja lançado em 2028.