"Basicamente, Assad foi arrastando a situação com a barriga e o que ocorreu foi uma dilapidação total do Estado sírio, principalmente das tropas. Além disso, se desenhou uma divisão militar interna. A Força Tiger, liderada pelo General Hassan, tendia a preferir os russos, enquanto a Guarda Republicana, liderada pelo irmão do Bashar al-Assad, o Maher al-Assad, preferiu os iranianos. O presidente alienou totalmente a força Tiger do processo de tomada de decisão na Síria, e isso gerou uma divisão operacional, tática e estratégica, que tornou o exército incapaz de operar", explica ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
Qual o motivo do conflito de Gaza?
"Vimos o retorno de várias doenças em Gaza, colonos israelenses impedindo a chegada de ajuda humanitária. Porém, do ponto de vista tático do conflito, o que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez foi um tiro no pé. Não é possível operar tanques e fazer movimentações de brigadas em um cenário onde se destruiu toda a infraestrutura. Israel, assim como os Estados Unidos fizeram no Vietnã, deu trincheiras para seus inimigos. É muito fácil armar emboscada e sair pelas rotas de fuga, no caso do Hamas e os outros 17 grupos insurgentes que existem dentro da Faixa de Gaza. E é por isso que estamos vendo essa guerra se arrastando", analisa.
Reconfiguração do front na Ucrânia
"Toda essa dinâmica explica os substanciais avanços russos neste ano, além de um acúmulo de baixas ucranianas que fez com que as melhores unidades fossem prejudicadas, sacrificadas, degradadas e depreciadas. Embora a Ucrânia ainda tenha massa crítica humana para mobilizar, sabemos que o recrutamento compulsório e forçado está levando cidadãos absolutamente despreparados, inaptos para o combate, sem o devido treinamento para a linha de frente, e a taxa de sobrevida tem sido muito diminuta", explica.
"Os Estados Unidos têm uma profunda influência no seu establishment institucional, que compõe o Departamento de Estado, Departamento de Defesa, o Pentágono, que muitas vezes molda a política norte-americana, em detrimento de a política americana moldar essas instituições. Portanto é muito difícil você prever que uma simples mudança de governo vá gerar uma reconfiguração", finaliza.