Em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, após ter retornado de Gaza, ela destacou que os dois projetos de lei aprovados pelo parlamento israelense, que bloqueiam a cooperação com a agência, impossibilitarão a distribuição de ajuda na Faixa de Gaza.
"Se essa agência for eliminada, elimina-se esse amortecedor. Fico surpresa de o ordenamento social não ter desmoronado mais do que já desmoronou. As pessoas [em Gaza] estão sendo empurradas ao limite", afirmou a porta-voz.
"Se a UNRWA não funcionar mais, simplesmente não haverá nenhuma outra agência que possa intervir", disse Wateridge.
A trabalhadora humanitária admitiu não estar ciente de qualquer plano B sobre como continuar operando em Gaza caso Israel bloqueie o trabalho da agência, como o governo de Benjamin Netanyahu planeja fazer no final de janeiro.
Em outubro passado, o parlamento israelense aprovou dois projetos de lei para proibir a UNRWA de realizar "qualquer atividade" em Gaza e declarou a agência como um grupo terrorista.
Isso ocorreu após acusações do Governo de Israel, desmentidas pelos trabalhadores da agência, de que membros do pessoal da UNRWA em território palestino estiveram envolvidos nos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2003, que causaram a morte de mais de 1,2 mil israelenses e o sequestro de centenas de outros.
Wateridge disse ao jornal que a ameaça à operação da UNRWA ocorre em um momento em que o consenso geral em Gaza é o de que foram abandonados pela comunidade internacional.
"Se você falar com qualquer pessoa, qualquer civil, a sensação é de desespero absoluto", disse ela, referindo-se aos residentes da Faixa de Gaza. "Aparece um quadricóptero, depois um drone, [e o tempo todo] você tem que desviar para não ser morto. E, ao mesmo tempo, você tem que conseguir água e comida para sua família e se manter aquecido."
Enquanto isso, a porta-voz alertou que a ordem civil estava se desmoronando em partes do enclave:
"Há áreas em que há anarquia absoluta. Não há outra maneira de descrevê-lo. Aqui operam famílias criminosas locais. Mataram nossos motoristas, o que é absolutamente horrível, e então toda a ajuda foi saqueada".
A funcionária acrescentou que as ações das Forças de Defesa de Israel em Gaza estavam tornando as condições de vida "absolutamente miseráveis em todos os sentidos".
"Os bombardeios e os ataques são uma parte, e a outra grande parte é a vida indigna. Simplesmente, todos os aspectos da vida em sociedade desapareceram", concluiu.