Até recentemente, a comunidade científica acreditava amplamente que as espécies de mamíferos gigantes do Pleistoceno, conhecidas como megafauna, foram extintas devido a uma combinação de mudanças climáticas e caça humana no final da última Era Glacial.
No entanto, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Museu de Pré-História de Itapipoca e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) desafia essa hipótese. A pesquisa sugere que essa fauna sobreviveu por pelo menos 8.000 anos além do esperado. Os resultados foram publicados no Journal of South American Earth Sciences.
Animais pré-históricos como o tigre-dentes-de-sabre sul-americano, a preguiça-gigante Eremotherium, o xenorrinotério e a lhama antiga foram extintos em grande parte da América do Sul na transição do Pleistoceno para o Holoceno, cerca de 11 mil anos atrás.
Tanque natural Jirau 01 e a formação da camada fossilífera no depósito do tanque
© Foto / CC BY-NC 4.0 / Júlia D’Oliveira
Novas datações de carbono 14 em dentes escavados em Jirau, no Ceará, e na bacia do rio Miranda, no Mato Grosso do Sul, revelam que esses animais viveram do Pleistoceno Médio até o Holoceno Médio/Superior, de 77,4 mil a 3.500 anos atrás, e não até o limite Pleistoceno/Holoceno como se pensava anteriormente.
Análises de microestruturas dentárias de oito espécimes, sete de Jirau e um da bacia do rio Miranda, foram realizadas para calcular a idade dos fósseis. Esses materiais fazem parte das coleções do Museu de Pré-História de Itapipoca e do departamento de biologia da UFMS.
Reconstituição artística da Paleolama, um dos grandes mamíferos que viveram há 3.500 anos no Sítio Paleontológico do Jirau, no Ceará, com datação identificada no Laboratório de Radiocarbono da Universidade Federal Fluminense (UFF)
© Foto / Guilherme Gehr
A idade mais recente dos fósseis foi estimada em aproximadamente 3.500 anos, muito além do limite considerado para a extinção desses animais no Brasil.
Os autores do estudo afirmam que as primeiras mudanças ambientais e climáticas, com o aumento da temperatura após o limite Pleistoceno/Holoceno, permitiram que algumas populações mais generalistas sobrevivessem em áreas de vegetação ou borda de vegetação, como a caatinga e o cerrado. Com o clima mais quente e árido, essas mudanças reduziram essas espécies a grupos isolados que persistiram até cerca de 3.500 anos atrás.