De acordo com a revista Veja, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, não participou da reunião, pois cumpria um compromisso em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda conforme a mídia, a política de preços da estatal esteve na ordem do dia do encontro, embora nenhuma modificação tenha sido feita.
O reajuste por parte da Petrobras, entretanto, parece que vai acontecer. Na última segunda-feira (29), Chambriard avisou ao governo que ocorrerá aumento no preço do diesel. A previsão é que o valor possa chegar a R$ 0,24 por litro.
Diante das expectativas, Anselmo dos Santos, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que, diante do cenário, o aumento dos custos ficaram evidentes e, consequentemente, podem gerar impacto em outros setores.
"Temos uma economia ainda aquecida e necessitando de bastante transporte. Então, obviamente que, se for necessário, o que ocorrerá é um reajuste do preço dos fretes, de acordo com quanto o impacto do aumento do diesel vai ter sobre os custos do transporte."
Além disso, outros produtos derivados do diesel também podem entrar na esteira do aumento, segundo o economista. É o caso de plásticos, asfalto e um conjunto de matérias-primas derivadas do combustível.
A defasagem atual do preço da gasolina é de cerca de 7% em relação ao mercado internacional, enquanto a do diesel chega a 17%.
Para Roberto Bocaccio Piscitelli, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), a taxa deveria ser "perfeitamente administrável".
"A Petrobras continua obtendo bons resultados. Os acionistas não podem se queixar dos dividendos e juros sobre o capital próprio que têm recebido, em função da generosa política de distribuição de dividendos", afirma.
Segundo o economista, a retenção dos preços por mais algum tempo não seria um desastre e também não afetaria os investimentos e as expectativas da empresa.
Por outro lado, a pressão no governo, que já tem que lidar com a pressão inflacionária, aumenta.
Bocaccio avalia que o aspecto político "permeia toda a discussão a respeito da inflação e da taxa de juros", o que, evidentemente, "provoca uma pressão muito grande em cima do governo", especialmente devido "ao peso que principalmente a alimentação apresenta, sobretudo para as pessoas, para as famílias de mais baixa renda, a pressão que isso ocasiona e o que isso apresenta em termos de queda de popularidade para o governo".
'Petrobras perdeu capacidade de administração de preços por parte do governo federal'
A perda se deve, segundo Bocaccio, ao "abandono nos últimos governos de uma política de fortalecimento da Petrobras e da cadeia de produção do petróleo e seus derivados".
Em 2021, a estatal fechou a venda da BR Distribuidora. Da mesma forma "foram desativados outros setores, como o de fertilizantes", relembra o economista.
Na opinião dele, o país avançava em autossuficiência, mas abriu mão disso. Entretanto, hoje, conforme o entendimento dele, há a tentativa de desenvolver uma política um pouco diferente, reequipando, modernizando, ampliando as refinarias e a própria capacidade do Brasil de produzir esses derivados.
"É uma política que precisa ser empreendida, precisa ser fortalecida, porque é o caminho que nós temos para ter maior autonomia, principalmente na produção de derivados de petróleo, daqueles que são considerados mais nobres, mais raros e mais caros", defende.
ICMS vai deixar combustíveis mais caros a partir de fevereiro
Apesar dos combustíveis não sofrerem alta no ano passado — sobretudo pelo fato de a Petrobras abandonar o Preço de Paridade de Importação (PPI) e adotar uma fórmula que coloca os valores dentro do contexto brasileiro —, a previsão de aumento já para fevereiro está precificada.
"Os estados já vêm elevando alíquotas de vários produtos. Esse caso não é especificamente em decorrência da reforma tributária, mas é algo que já estava previsto em função de alterações anteriores ou de reduções anteriores do ICMS", diz Bocaccio.
O reajuste no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), imposto estadual, previsto é de 5,3% para o diesel e de 7,1% para a gasolina, o que representa um aumento de R$ 0,06 para o diesel por litro e R$ 0,10 para a gasolina. Ele deve começar a valer já a partir do próximo sábado (1º).