"Estivemos conversando, defendendo e expondo, porque é muito importante ouvir, escutar, falar e dizer, não calar. Acredito que foi positivo. Há temas nos quais chegamos a alguns primeiros acordos e, se forem cumpridos, abrirão novos tópicos, esperamos, que para novos acordos em benefício dos dois países e da região", declarou Maduro durante o evento de abertura do ano judicial no Tribunal Supremo de Justiça.
O presidente venezuelano enfatizou que não age sob pressões nacionais ou internacionais, mas sim com a convicção de levar "a verdade de um povo".
Além disso, reiterou seu compromisso com uma diplomacia baseada no respeito e na soberania, relembrando sua participação no Grupo Boston nos anos de 2003 e 2005, onde promoveu relações de respeito entre ambas as nações.
"Propus ir construindo a 'agenda zero'. Muita gente se pergunta o que é a 'agenda zero'. Estamos caminhando para um novo início de relações históricas, onde o que precisar ser retificado seja retificado e o que precisar ser feito seja feito no marco do respeito, sabendo quem é cada um, porque ninguém engana ninguém", explicou Maduro.
O mandatário também destacou que a Venezuela não é um país contrário aos EUA, mas sim anti-imperialista. "Queremos um mundo sem impérios, sem hegemonias, onde os pequenos valham tanto quanto os países grandes", afirmou.
Um passo para a paz e a cooperação
Especialistas ouvidos pela Sputnik interpretaram a reunião entre Maduro e Grenell como um ponto de inflexão nas relações bilaterais, que poderia reorientar para um enfoque pragmático e diplomático.
A especialista em relações internacionais Elizabeth Pereira destacou em entrevista a Sputnik que a visita é uma "clara manifestação do reconhecimento da legitimidade e liderança do presidente Maduro no âmbito internacional.
A especialista ressaltou que essa aproximação evidencia a necessidade de ambas as nações de trabalharem conjuntamente para fortalecer a estabilidade regional e promover o desenvolvimento econômico.
"A presença de Grenell em Caracas sublinha a importância estratégica da Venezuela na agenda internacional e abre a porta para futuras colaborações em áreas-chave, como energia, agroalimentação, tecnologia, entre outras", acrescentou.
Pereira também destacou que os Estados Unidos compreenderam que não poderão resolver seus desafios internos sem abordar questões externas pendentes, entre elas, a normalização das relações com a Venezuela. "Esse movimento estratégico responde a preocupações pragmáticas relacionadas à sua segurança energética e à recuperação econômica e financeira dos Estados Unidos", explicou.
Diplomacia vs. confronto
Para Pereira, esse encontro desmonta parcialmente a narrativa de confrontação e sanções que os Estados Unidos haviam sustentado contra a Venezuela.
"A reunião foi uma formalidade acordada, onde prevaleceu o diálogo sobre a imposição unilateral", afirmou. A especialista ressaltou que essa aproximação constitui uma das vitórias mais transcendentais da diplomacia bolivariana da paz.
"Isso marca o início do desmonte das políticas de engano e pressão dos Estados Unidos e reafirma que o caminho irremediável nas relações bilaterais é o diálogo e a negociação", sustentou. Pereira também destacou que esse encontro envia uma mensagem clara àqueles que optaram pelo desconhecimento e pelas ações de desestabilização. "O caminho é o diálogo e a negociação. A diplomacia bolivariana da paz demonstrou ser eficaz na defesa da soberania e dos interesses do povo venezuelano", afirmou.
Jogo de mensagens e equilíbrios
Por sua parte, o pesquisador Diego Sequera analisou o encontro de uma perspectiva mais cautelosa, destacando a importância dos detalhes que ainda não foram revelados.
"Tudo depende do nível das seis pessoas que foram devolvidas com Richard Grenell aos Estados Unidos. Isso é o que dará a mensagem, o tom completo à mensagem", observou.
Sequera também fez referência à percepção dos Estados Unidos como um ator "incapaz de cumprir um acordo", um conceito amplamente discutido no âmbito internacional. "Eu duvido que o presidente Nicolás [Maduro] não tenha uma percepção semelhante depois de tudo, depois de tanto", afirmou.
No entanto, o pesquisador reconheceu que esse encontro representa um gesto amistoso do presidente Maduro. "Há uma demonstração de boa fé importante por parte do presidente, que não é um sinal de submissão, mas sim de uma posição de força", explicou.
O pano de fundo: reciprocidade e negociação
Tanto Pereira como Sequera concordam que o sucesso dessa nova etapa nas relações bilaterais dependerá da capacidade de ambas as partes de serem recíprocas.
"O pano de fundo principal é que sejam capazes, neste caso, de serem recíprocos, de alguma forma que reflita um tom, uma negociação", concluiu Sequera.
Enquanto isso, o presidente Maduro deixou claro que seu enfoque é construir relações baseadas no respeito e na soberania.
"Desde a Venezuela soberana e bolivariana, dizemos ao presidente Trump: demos um primeiro passo, esperamos que possa ser sustentado. Nós queremos fazê-lo. Eu não pratico a diplomacia de microfone, porque, se alguém quer que funcione, deve cumprir a palavra, os acordos e falar pouco", afirmou.
Com esse encontro, Venezuela e Estados Unidos parecem estar dando os primeiros passos para uma nova era em suas relações, marcada pelo diálogo e pela busca de acordos mutuamente benéficos. No entanto, como bem destacam os especialistas, o caminho à frente estará repleto de desafios e exigirá uma negociação cuidadosa e reciprocidade, com o cumprimento de acordos por ambas as partes.