Em seu artigo para o jornal The Guardian, Smith escreve que ele era conselheiro em questões políticas, responsável por "avaliar se as vendas de armas do governo britânico cumpriam os padrões legais e éticos da lei nacional e internacional".
"O meu trabalho no [Gabinete de Relações Exteriores, da Comunidade e do Desenvolvimento] FCDO expôs como os ministros podem manipular os quadros legais para proteger países "amigos" da responsabilidade [...]. O que testemunhei não foi apenas um fracasso moral, mas um comportamento que acredito ter ultrapassado o limiar da cumplicidade em crimes de guerra", escreve Smith.
Segundo ele, os funcionários do escritório "desvirtuam, distorcem e ocultam os processos oficiais para criar uma fachada de legitimidade, ao mesmo tempo que permitem os mais flagrantes crimes contra a humanidade".
Smith, em particular, alega que durante seu trabalho no departamento, os ministros pressionaram funcionários de alto nível para que "distorcessem" as avaliações sobre legalidade. Ele acrescenta que lhe foram repetidamente devolvidos relatórios com instruções para modificar as conclusões - "para minimizar a evidência de danos aos civis e enfatizar os esforços diplomáticos, independentemente dos fatos".
Smith detalha que trabalhou em um departamento para o Oriente Médio. No entanto, o exemplo mais marcante de "manipulação" durante seu trabalho foi, segundo ele, a venda de armas do Reino Unido para a Arábia Saudita.
Segundo suas estimativas, as vendas de armas de Londres a Israel são ainda mais preocupantes.
"O bombardeio repetido de Israel em Gaza causou a morte de milhares de civis e a destruição de infraestruturas vitais – ações que são claramente incompatíveis com o direito internacional. No entanto, o governo do Reino Unido continua justificando a venda de armas para Israel", conclui o especialista.
Mark Smith renunciou ao cargo em agosto passado como parte de um protesto contra o fornecimento contínuo de armas para Israel.