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'Sem energia nuclear, não conseguiremos nos livrar do carbono', diz vice-diretor-geral da AIEA

Em evento na cidade do Rio de Janeiro, Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares, ressalta que fontes renováveis, como solar e eólica, não possuem potência reativa suficiente para garantir a segurança energética.
Sputnik
Investir em energia nuclear, especialmente em pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês), contribui para um mundo mais justo e menos desigual. A conclusão é de especialistas que participaram, nesta quarta-feira (21), do segundo dia do evento de negócios e tecnologia Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E), promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN).
O evento ocorre no centro de convenções Expomag, no Centro do Rio de Janeiro. Ele teve início ontem (20) e vai até quinta-feira (22).
Nesta quarta-feira (21), no painel Plataforma Nuclear do BRICS, especialistas de Brasil, Rússia, China, África do Sul, Bolívia, Etiópia e Irã discutiram projetos para ampliar o uso de energia nuclear como forma de construir um mundo mais equitativo, fornecer uma alternativa à alta nos preços dos combustíveis fósseis e garantir a segurança energética, especialmente em áreas isoladas, e a transição energética.
Ademais, os especialistas destacaram o baixo impacto ambiental da energia nuclear, que não lança na atmosfera gases de efeito estufa.
"Essas características tornam os SMRs uma opção estratégica para países em desenvolvimento, pois facilitam o acesso à energia renovável e sustentável com impacto social e ambiental positivo. Nesse sentido, o financiamento para a implementação de SMRs é essencial no contexto da transição energética, pois se trata de uma tecnologia resiliente às mudanças climáticas e oferece benefícios significativos em comparação com outras fontes de baixa emissão", disse Hortensia Jiménez Rivera, diretora-executiva da Agencia Boliviana de Energia Nuclear (ABEN).
Pedro Kassab, vice-presidente da geradora Diamante Energia Brasil, frisou que um dos principais desafios para o setor de energia nuclear será obter financiamento para projetos.

"Todos sabem que, até muito recentemente, alguns grandes credores envolvidos em infraestrutura tinham restrições à energia nuclear. Felizmente muitas dessas restrições, incluindo as do Banco Mundial, estão sendo revertidas agora. No entanto, isso não significa que o financiamento para a energia nuclear será significativamente mais fácil na prática no curto prazo", afirmou.

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Segundo Kassab, mesmo que as regras sejam flexibilizadas, os projetos seguirão para departamentos de análise, onde haverá desafios, principalmente em relação a custos.
"Então isso será um grande desafio para a energia nuclear no futuro próximo, até que comecemos a criar um histórico de entregas dentro do prazo e do orçamento, em todo o mundo", afirmou.
À Sputnik Brasil, Mikhail Chudakov, vice-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), destacou que o evento reuniu mais de 3 mil participantes, provenientes de vários países, e afirmou que o fórum é importante não só para a América Latina, mas para o mundo.
"Porque está claro, para qualquer pessoa com um mínimo de formação técnica e que acompanhe o que está acontecendo com o clima e a segurança energética, que, se quisermos substituir as fontes de energia baseadas em carbono, precisaremos utilizar a energia nuclear como uma fonte limpa, verde e que funciona por 100 anos, um século inteiro. Por isso esta reunião e este fórum são tão importantes. Discutimos como acelerar e implementar a energia nuclear na América Latina, como concluir a construção da unidade número três de Angra [a usina nuclear Angra 3, na cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro]."
Ele citou como exemplo o que ocorreu recentemente com Portugal e Espanha, "quando passaram a depender totalmente das chamadas energias renováveis", como a eólica e a solar.

"O vento e a [energia] solar não possuem potência reativa suficiente, o que torna a rede muito frágil e insustentável. E, se falamos sobre fontes de energia livres de carbono, é claro que, junto com as renováveis, como a do vento, a solar e a hidrelétrica, precisaremos utilizar a energia nuclear. Sem energia nuclear, não conseguiremos atingir um ambiente livre de carbono, como muitos países planejam."

Nesse contexto, ele também destacou "a atuação do BRICS em promover o avanço da energia nuclear".
"Eles [BRICS] também discutem a energia nuclear pacífica para o futuro dos países do grupo. E nós apoiamos todos os países e organizações, inclusive o BRICS, que promovam o avanço da energia nuclear" afirmou.
Celso Cunha, presidente da ABDAN, afirmou à Sputnik Brasil que a energia nuclear é um tema relevante para todas as áreas, incluindo a saúde, "quer seja na questão do tratamento do câncer, quer seja na geração de energia". Ele frisou que o mundo e a própria Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) já declararam que "sem energia nuclear não vai haver transição energética".

"São muitos terawatts de energia que precisam ser descarbonizados. E a energia nuclear é a única que é capaz de entregar algo firme, estável, limpo e que mantém um nível de segurança extremamente alto", afirmou.

Segundo ele, trazer o BRICS para a discussão é de suma importância por conta da relevância econômica do grupo.

"Nós estamos falando de uma boa parte do PIB mundial estar se unindo a favor do uso da tecnologia nuclear. E se unindo por quê? Porque é importante fazer a descarbonização, é importante cuidar do mundo, é importante a gente fazer a transição energética. E, neste momento, ter o BRICS como um grande bloco econômico que possa auxiliar nesse processo é fundamental."

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