Entrevistados do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, analisaram o atual cenário na Caxemira, região dividida por Índia e Paquistão desde 1947, quando se tornaram independentes da Coroa Britânica. Além deles, a China tem parte no território.
As tensões eclodiram na região ao sul do Himalaia
quando 26 pessoas morreram após atentados reivindicados pela
Frente de Resistência, grupo ligado à organização terrorista Lashkar-e-Taiba (proibida na Rússia e em vários outros países). Na ocasião, homens armados abriram fogo contra turistas no vale de Baisaran, área controlada pelo governo indiano.
Conforme
Luciana Garcia de Oliveira, professora de geopolítica da Ásia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a questão religiosa é um dos panos de fundo desse
conflito complexo que se arrasta por décadas. Entretanto, ela teve papel primordial no ataque realizado no fim do mês passado.
O Paquistão, por sua vez, nega qualquer financiamento.
Após o episódio, a Índia vem ameaçando intervir no fornecimento de água ao Paquistão, uma vez que os rios que abastecem Islamabad nascem na Índia. A situação colocaria a população paquistanesa em insegurança hídrica.
"O rompimento desse acordo é muito grave, principalmente do lado do Paquistão,
onde a população é mais vulnerável. Então é uma
linha muito tênue com o rompimento desse acordo, que pode gerar uma guerra, um conflito", comenta a especialista, sobre as intimidações de Nova Deli.
Como se trata de duas potências nucleares — além da China, outra potência nuclear que tem parte no território, apesar de não estar diretamente envolvida —, existe um contexto de "paz negativa", ou seja, há paz por causa da presença de armas, explica João Paulo Gabriel, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Além de um signatário totalmente envolvido na questão, há a China, que acompanha a situação. É importante lembrar que Pequim e Nova Deli possuem algumas diferenças construídas historicamente.
Para Oliveira, a questão pode, sim, mexer de alguma forma com o BRICS. Ela pontua que a
China tem investimentos econômicos importantes no Paquistão e que "
há uma pressão diplomática nesse momento de pré-guerra, principalmente com o rompimento desse tratado da água".
"Se houver uma guerra entre a Índia e o Paquistão, isso pode desdobrar nos relacionamentos dos países do BRICS", atesta.
Gabriel, por sua vez, ressalta que, ao passo que Índia e China concordam em fóruns internacionais quando o assunto é meio ambiente ou algo que envolva questões econômicas, quando o tema na mesa é segurança, os dois lados tendem a divergir.
Nesse sentido, ele acredita que um avanço das tensões na Caxemira pode desenvolver
"rivalidades que possam vir a gerar ruídos no campo da segurança" dentro do BRICS.
Os analistas pontuam, ainda, a pouca relevância dada pelo Ocidente ao conflito.