Panorama internacional

Análise: na Cúpula do BRICS, Brasil e aliados 'reafirmam soberania' perante EUA

A 17ª Cúpula do BRICS, encerrada nesta segunda-feira (7), com 126 pontos acordados na declaração final na primeira vez em que os novos membros participaram da cimeira. Para analistas, reivindicações e interesse pelo bloco mandam recado para a ordem internacional vigente.
Sputnik
Do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao chanceler russo, Sergei Lavrov, líderes das nações que compõem o BRICS e convidados abordaram a importância do multilateralismo nesta 17ª edição da cúpula, sediada no Rio de Janeiro. A temática, bem se sabe, não é novidade para o grupo.
"Desde a primeira declaração do encontro de 2009, o BRICS mostra recorrentemente que a reforma das instituições internacionais e do âmbito da governança global é uma das frentes mais relevantes dentro da proposta do bloco", relembra Gabriel Rached, professor e pesquisador em economia política internacional contemporânea e pós-doutor em estudos internacionais pela Universidade de Milão.
Seguindo essa seara, a presidência brasileira encontrou formas de capitanear o encontro, priorizando temas como saúde global, tecnologia e inteligência artificial e mudanças climáticas, buscando fortalecer a cooperação do Sul Global na direção de uma governança mais inclusiva e sustentável.
Segundo Rafaela Mello Rodrigues de Sá, pesquisadora associada ao Public Banking Project (projeto de banco público, em tradução livre) da Universidade de McMaster, no Canadá, "a cúpula brasileira buscou entender os interesses convergentes que esses países tinham para facilitar certo consenso nessas pautas".
Diante do contexto, os especialistas acreditam que a cúpula do Rio de Janeiro, apesar de contar com ausências como as dos presidentes da China e da Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, alcançou os objetivos propostos no início.
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Para Rodrigues de Sá, a presidência brasileira do BRICS faz parte de um processo mais amplo de reinserção do Brasil nas discussões globais e ajuda a consolidar a agenda que leva adiante os temas do desenvolvimento global mais inclusivo e maior compromisso com o financiamento, a fim de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Trump ameaça o BRICS

Fora de qualquer previsão, entre o primeiro e o segundo dia da Cúpula de Líderes, o presidente Donald Trump exerceu um pouco de pressão externa por meio das redes sociais, na qual publicou que taxaria em 10% países que se alinhassem às políticas do BRICS, descritas por ele como "anti-americanas".
Durante coletiva, nesta segunda-feira, o presidente Lula respondeu e criticou o chefe do governo dos EUA.
"Não acho muito responsável um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da Internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperadores, somos soberanos. É equivocado e irresponsável."
Ao receber a Cúpula do BRICS e buscar alternativas para mais intensidade de trocas comerciais entre esses países, o Brasil "reafirma o papel da soberania do BRICS declarando que não se deve aceitar interferências ou ingerências externas nas instituições domésticas", diz a pesquisadora.
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Gabriel Rached, por sua vez, destaca que, ao passo que Trump faz declarações efusivas sobre taxações, mais é evidenciado que o o formato proposto em Bretton Woods não é eficiente na hora de pilotar as questões internacionais.
"Depois da pandemia, essas instituições saíram muito desacreditadas. Isso trouxe como consequência um cenário de crise do multilateralismo, que é atacado internamente pelo próprio propositor: os Estados Unidos", explicou.
Observando esse cenário, cada vez mais países têm interesse em entrar no BRICS, destaca o especialista. Atualmente, pelo menos 40 países já demonstraram interesse em fazer parte do grupo. "É praticamente um quarto de todos os países", diz.

"É emblemático o movimento que o grupo está fazendo, porque mostra que o sistema anterior, do jeito que está funcionando, não tem a credibilidade e a representatividade que foi proposta."

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