No início desta segunda-feira (14), o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o país, ao lado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN),
enviará mais armas à Ucrânia, em um investimento que será totalmente atribuído aos
cofres dos países da Europa.
Ainda segundo Trump, que fez o pronunciamento ao lado do
secretário-geral da aliança, Mark Rutte, em Washington, serão enviados
sistemas de míssil Patriot novos, e haverá transferência desse modelo de armamento de outros países da OTAN para a Ucrânia.
Analistas entrevistados pela Sputnik Brasil afirmam que os anúncios feitos nesta segunda-feira pouco ajudam a Ucrânia ou impactam a Rússia, sendo o grande vencedor de toda essa história os próprios Estados Unidos, que fornecerão as armas e alimentarão a economia bélica do país às custas da Europa.
Para
João Victor Motta, pesquisador e doutorando em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, a suposta
defesa da Ucrânia está em segundo plano para Washington, que acredita que prolongar os confrontos pode enfraquecer economicamente a Rússia, além de manter ativo o complexo industrial-militar,
"essencial para a economia dos EUA".
Motta destaca que o novo anúncio de fornecimento de armas a Kiev não escala o conflito, mas prolonga. Na visão do especialista, por diversos momentos, os governos de Rússia e Ucrânia estiveram perto de um acordo para o fim do conflito, mas agentes externos impediram isso.
O professor de relações internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp) James Onnig vê a tentativa de Trump e da OTAN em pressionar a Rússia, mas não acredita que isso possa mudar algo no campo de batalha.
"Nós sabemos que isso [o envio de armas] não funciona. Nós sabemos que isso está defasado."
Onnig entende que o fornecimento de armas norte-americanas com investimento europeu pode afundar ainda mais o continente em uma crise econômica, "aumentando a dependência em relação aos Estados Unidos". Enquanto isso, a Rússia resiste sem maiores problemas.
Poucos meses atrás, em uma visita de
Vladimir Zelensky a Washington, Trump afirmou diante das câmeras que o político ucraniano estava
"apostando com a vida de milhões de pessoas e com a Terceira Guerra Mundial". Em outros discursos que sucederam o encontro, o republicano também colocou em xeque o apoio dos EUA aos esforços de guerra de Kiev.
A retórica de Trump, porém, mudou nos últimos dias, culminando no anúncio feito nesta tarde da nova ajuda militar conjunta da OTAN. Para Motta, esse tipo de conduta do líder estadunidense demonstra como caminha a política externa do país.
"A mudança de posição de Trump evidencia a natureza transnacional e inconsistente da recente política externa dos EUA, que frequentemente utiliza outras nações como instrumentos para seus próprios interesses."
O especialista acredita que esse confronto no Leste Europeu é mais um episódio de conflito alimentado por "anseios imperiais, ignorando as lições aprendidas até o século XX", que mostravam que a diplomacia poderia levar à segurança coletiva para a construção de paz.
Onnig afirma que o objetivo de Trump é uma velha tentativa norte-americana de supostamente ser o defensor da democracia e liberdade global, que coloca países como China e Rússia, por exemplo, como autocracias contra os direitos humanos. Para o professor, esse discurso "pega bem no Ocidente", mas, na prática, Moscou e Pequim se distanciam do Ocidente hegemônico a caminho de uma nova era.
Apesar de investirem e financiarem o desejo bélico de Zelensky, para Onnig
não há confiança por parte da Europa e dos EUA no líder ucraniano para entregar armas de ataque, como o
sistema alemão Taurus. Ao mesmo tempo, Kiev resiste às negociações com Moscou em uma tentativa de agradar o bloco europeu.
Além do envio de armas,
Trump também anunciou que pode impor novas tarifas à Rússia, que podem ultrapassar os 100%. Para Motta, os tarifaços do republicano mostram que ele tenta usar a economia como
"negociação sob coação e ameaça", ignorando o processo diplomático. Todavia,
novas sanções não devem afetar a economia russa.